terça-feira, outubro 2

O Dom que Deus me deu (Católico Ateu)


Deus é muito inteligente, ou pelo menos deve ser, caso exista. Ele criou tudo, desde os genes até os gigantescos astros que fazem a Terra parecer um “Pixel” na tela do meu computador. E me deu uma inteligência, maldita Inteligência esta que me faz questionar Sua própria existência, pelo fato de a “idéia de Deus” não caber em minha mente. Tenho “inveja” de todo crente.

O que cabe na minha mente, é a existência e tudo que existe, ter partido de um “Nada Jocaxiano”, e que deste ponto, pela seleção natural das leis que foram surgindo e se sobrepondo umas as outras, até resultar numa “legislação” inteira, porém cega mas estável.

O que entra em minha cabeça é que as leis cegas, por não possuírem mentes nem de repentes, quando submetidas a um tempo quase infinito, chegariam necessariamente em algum momento, num conjunto de leis, que resultariam numa precisão tão grande que seriam como uma grande “Constituição” para gerar a vida, de forma necessária, porém, sem necessidade de planejamento.

Vejo no mundo um “design inteligente” que poderia me dar a Graça de intuir um ser inteligente, mas que pelo contrário, me mostra o quanto tudo pode acontecer, quando submetido ao tempo. E desde o início, com o Big Bang, se houve algo em abundância até o nascimento do primeiro homem, uma mutação genética de um primata primitivo, foi tempo. Muito tempo.

Ao vislumbrar a inteligências de grandes homens, como Santo Tomaz, eu começo a entender por que o santo concluiu suas vias tão poderosas e primorosas. Porém, diante da frágil idéia de Deus e da intensidade da vida, estas vias, tão bem organizadas e empilhadas, perdem o sentido, quando no meio da noite, meu coração se sente só.

Padre Paulo Ricardo já disse que “a vida é a escolha do que faremos para viver com nossa própria solidão”. De fato, aguardo o tempo em que olharei para uma porteira, e lá estará um Pai. Pai de um jeito que nunca tive. E que provavelmente só conhecerei no papel.

Posso concluir que Deus existe, simplesmente pela vontade de conhecê-lo, porém, as paredes de minha solidão me revelam a frieza de Seus cuidados, e a distância de Suas providências, num lusco-fusco confuso, me vejo proclamar profecias, que eu não conheço, mas que em momentos seqüentes, uma força avassaladora, invade a semente de Fé, que nascera e a destrói.

Procuro pelas palavras de meu amado Jesus, e me assemelho aquele que ouve, mas não entende, e por isso tem a fé arrancada do coração. Continuo minha procura e me vejo nos olhos do alegre, mas, que as tribulação da vida, lhe roubam o pouco que tinha de Fé. Agora vejo a semente que está entre espinhos, tendo sua fé roubada pelas preocupações. E para meu consolo, vislumbro aquela semente, que cai em terreno bom, e dá bons frutos. Pois ao ver minhas filhas, meus frutos, entendo que são bons, porém, frutos de uma ausência de fé.

E me entristeço, pois São Paulo, dia e noite repete em meus ouvidos, que sem a Fé, é impossível agradar a Deus. Mas não desisto! O amor que tenho por Deus, este meu “Amigo Imaginário” é tão grande, que continuo tentando, nas esperanças de um dia, esta palavra falhar, e mesmo sem Fé, Deus se agrade comigo.

Percebo que na verdade, esta ausência de Fé, é um Dom. Se não fosse esta minha completa e absoluta falta de Fé, eu nunca teria buscado pelas respostas, pela Verdade, e nunca teria identificado a Verdade, nas palavras de Jesus, e nunca poderia fingir que Ele está aqui!

Este é o meu presente. Pouco comum, eu reconheço, mas é com este presente que por meio das palavras, formadas num processo de “seleção natural” ganham peso no falar, pela junção de palavras aleatórias, mas necessárias, formam frases, e de frases soltas a textos complexos que acabam atingindo a inteligência de muitos. E este por sua vez, encontram o Deus que eu procuro, nas palavras que eu digo, mas que eu mesmo não encontro e não escuto.

Vivo a repetir minha oração cotidiana: “que a mentira minha de cada dia, me dai hoje”. Eu vivo a mentira! A mentira de saber que Deus não existe, e ama-lO tão louca e apaixonadamente, que este amor me leva a superar a certeza, certeza de estar só a todo momento, mas que por este Amor, sou capaz de cometer a loucura de duvidar.

Como um menino romântico, que visualiza um desenho de menina, e identifica nesta figura ideal, o seu grande amor, e cela com ela seu compromisso de “mentirinha”, e a carrega no bolso, feito uma aliança frágil, que não pode ser mostrada, pois a delicadeza do papel poderia por em risco sua única esperança de contemplar o rosto de sua amada, que lhe visita em sonhos irreais e em pensamentos mentirosos, pois só assim é capaz de um diálogo doce, meigo, terno, apesar de inexistente.

Deus para mim, é uma fotografia de papel, que não ouso correr o risco de perder, pois assim eu perderia minha própria razão de existir. Deus é o melhor amigo que eu nunca tive. E que está provado que nunca terei. Se me perguntam se eu acredito em Deus, eu digo que sim, apesar Dele nunca ter me dito nada, de eu nunca ter ouvido nada. Mas acreditaria em qualquer coisa que Ele me dissesse.

Para admitir a Verdade, minto para mim mesmo e numa luta constante, entre minha razão e este meu dom, faço de Deus minha pátria, minha bandeira, minha constituição e minha salvação. Abrindo mão de minha certeza e sempre questionando: “para que uma certeza dessa, se posso viver minha mentira excelsa?”

Pai eu pequei. Pois o conceito de pecar, me leva a necessidade de me perdoar. Sou como Santa Madalena, pouco diferente, em apenas para sentir Seu toque e ouvir Suas doces palavras, me entregaria a todos os homens, para ser novamente pega em flagrante adultério, apenas para reviver a grandeza de nosso encontro, mesmo que no final eu terminasse sendo apedrejada.

Não tenho medo das pedras, não tenho medo do escuro, não tenho medo da certeza, não tenho medo da tentação, tenho medo de um dia não poder imaginar Você. Tenho medo de um dia aquela pintura que retrata algo que não existe, se perder, e eu nunca mais poder nem mesmo, sonhar com a minha maior mentira, que é Você.

CUIDA DE MIM
Teatro Mágico

Pra falar verdade, às vezes minto
Tentando ser metade do inteiro que eu sinto
Pra dizer as vezes que às vezes não digo
Sou capaz de fazer da minha briga meu abrigo
Tanto faz não satisfaz o que preciso
Além do mais, quem busca nunca é indeciso

Eu busquei quem sou;
Você, pra mim, mostrou
Que eu não sou sozinho nesse mundo.

Cuida de mim enquanto não esqueço de você
Cuida de mim enquanto finjo que sou quem eu queria ser.
Cuida de mim enquanto não me esqueço de você
Cuida de mim enquanto finjo, enquanto finjo, enquanto fujo.
Basta as penas que eu mesmo sinto de mim
Junto todas, crio asas, viro querubim
Sou da cor, do tom, sabor e som que quiser ouvir
Sou calor, clarão e escuridão que te faz dormir
Quero mais, quero a paz que me prometeu
Volto atrás, se voltar atrás assim como eu.

Busquei quem sou
Você, pra mim, mostrou
Que eu não sou sozinho nesse mundo.

Cuida de mim enquanto não me esqueço de você
Cuida de mim enquanto finjo que sou quem eu queria ser.
Cuida de mim enquanto não me esqueço de você
Cuida de mim enquanto finjo, enquanto fujo, enquanto finjo.

Um comentário:

  1. Me identifico muito com tudo o que voce escreveu sobre o católico ateu... Infelizmente, também vivo na ilusão de que sou aquilo que gostaria de ser... Por isso, não conto com nada que já fiz, faço e farei; preciso contar apenas e unicamente com a infinita misericórdia de d'Aquele que nos criou... Paz e bem.

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Que Deus não permita que a Verdade não seja vista por nossos olhos e nem deixada de ser dita por nossas bocas! Paz e bem