quinta-feira, dezembro 31

Sempre é agora

O dia de hoje, somente se repetirá daqui a um ano inteirinho... 365 dias. Mas na verdade, este dia não se repetirá jamais, e não apenas os dias, mas as horas, minutos e segundos. Cada uma destas unidades de tempo não mais se repetirá. São únicas e irrepetíveis, estando nós cientes disso ou não.

Gosto de pensar como seria o tempo para Deus, e há um poeta que cantou: “o tempo de Deus é pra sempre”. E se para Deus o tempo é pra sempre, então para nós, todos os dias são dias de nos encontrarmos com Ele. E Ele nos espera e sempre estará por ali ou por lá, para sempre Ele nos chamará a conversão, e isto torna cada milésimo de segundo extremamente oportuno para nos encontrarmos com Ele.

A metanóia, mudança de sentido, deve acontecer todos os dias de nossa vida, pois nosso pai Adão, ao final de um dia como hoje, dormiu distante de Deus e quando acordou, não mais ouvia a Sua voz, não mais o contemplava com seus olhos.

Mas o nosso Criador, é um excelente programador, e inseriu em sua obra prima, uma chave de segurança chamada fé, pois, após o pecado, todos os nossos sentidos ficaram cegos e nosso mundo interior, os nossos sentimentos, foram invertidos. Agora, sem a fé, seria impossível para Adão sozinho se reencontrar com Deus...

Sendo assim, a fé é o exercício do encontro, e não mais de forma natural, mas de forma que nos exige o esforço e o empenho pessoal de ver a Deus e ouvir a Sua voz, onde e quando é aparentemente impossível que Ele esteja... Mas Ele estará lá... A nossa espera... Em todos os lugares e em todos os dias, que para Ele, é para sempre, e para nós, se chama hoje, ou melhor... Agora!

Oração:

Meu amado Jesus, hoje e agora, eu me decido pela fé! Decido por encontrar-vos em todo espaço e em todo tempo. Decido pela opção de lhe honrar, temer, servir e amar na pessoa de cada um, seja ele quem for!

Decido continuar caminhando em tua direção, e agora, me decido por perdoar a todos em minha vida. E o que desejo, a cada um, meu Senhor e Pai, é que...

... ao que me feriu, que suas feridas sejam curadas!
... ao que me abandonou, sempre esteja ao Vosso lado!
... ao que me acusou, Vós, oh Senhor, o defenda!
... ao que me ameaçou, Tu sejas a sua segurança!
... ao que me humilhou, que encontre-se com Vossa glória!
... ao que me enganou, que Tu sejas a sua única verdade!
... ao que me agrediu, que nunca lhe falte o Teu abraço!

Que todo rancor se converta em amor.
Que toda solidão se torne unidade.
Todo desafeto transforme-se em amizade.
E toda indiferença se torne Caridade!


Amém!

quarta-feira, dezembro 30

Amarás os zumbis como a ti mesmo!

Você já reparou como hoje em dia se publicam cada vez mais mídias dedicadas a tratar o tema dos “zumbis”? São inúmeros filmes e de todos os gêneros, até documentários, são centenas de games e uma quantidade quase infinita de livros que abordam o tema, existem revistas que apresentam o lado especulativo da coisa bem como temas de jornais e até novelas e seriados.

O tema não é novo, o registro mais antigo de descrições semelhantes a zumbis, datam da mesopotâmia do século VII (a.C) - A epopeia de Guilgamesh - que se cogitam muito terem influenciado o livro de Gênesis. Mas claro, a lenda zumbi, é semelhante em inúmeras culturas, desde o mundo árabe antigo quanto à cultura nórdica da Escandinávia e a milenar cultura chinesa. Ou seja, zumbis, sempre existiram, e o número de seu relato é superior a relatos históricos relativamente recentes como os próprios relatos bíblicos.

Mas o que é um zumbi? De maneira geral e contemporânea (George Romero, 1968), são pessoas que foram contaminadas por agentes biológicos que causaram a morte do indivíduo, porém, lhe conferem a habilidade de movimentação, mesmo estando mortos. Outra definição mais antiga, é que são pessoas que morreram de forma indevida ou mesmo que foram enterrados de forma desrespeitosa que retornam à vida para se vingarem dos vivos.

Tomando a afirmação de que, “Nada está na realidade política de um país se não estiver primeiro na sua literatura” (Hugo Von Hofmannsthal). Amplio esta afirmação e digo que nada está na vida real, sem antes ter estado na literatura (mídias em geral) da humanidade e se tal afirmação é verdadeira, estamos no encaminhando para um verdadeiro “apocalipse zumbi” devido ao grande número de mídias que falam sobre o tema. Pois toda cultura cria sua própria versão de zumbis e existe até uma sociedade com um corpo acadêmico que estuda o tema, é a Zombie Research Society  - ZRS (Sociedade de pesquisas zumbis).

Veja algumas definições tiradas de pessoas que “entendem” o universo zumbi:

“Aparência apodrecida, funções cognitivas limitadas e apetite por carne humana” (ZRS)

“Todo tipo de característica humana some, eles parecem humanos, mas não são quem costumavam ser” (Steven Schlozman, autor de The Zumbie Autopsies)

O que mais assusta é que não é apenas um zumbi, é um grupo, você não pode fugir e nem matar todos eles. A ideia de que o perseguem, é por que simplesmente você tem um coração vivo.” (Max Brooks, Autor de Guerra mundial Z)

“Alguém cuja mente é controlada por outra pessoa é como um escravo” e “o único jeito de detê-los é atraí-los de volta ao chão de alguma forma” (Rebekah McKendry – produtora e diretora da Revista Fangoria, revista especializada em terror)

Então sabemos que os zumbis perdem sua identidade, adquirem uma aparência comum, pois todo mundo sabe quem é zumbi apenas olhando para ele (veja o vídeo de como a cultura zumbi afeta as pessoas), pois seu estado de “decomposição” já iniciou, mas ele aparentemente ainda está vivo. E em função destas características que acabo de descrever é que acredito que os zumbis já estejam entre nós e são tão ou até mais vorazes do que os da ficção e da mitologia.

E acredito ainda, que toda esta “cultura zumbi” esteja querendo nos sinalizar algo mais profundo e importante do que simplesmente causar terror nas mentes que buscam de entretenimento, pois Deus fala por meio de sinais e acontecimentos e com certeza está utilizando as mídias para nos dizer, não o que as mídias querem transmitir, mas o que estão de fato transmitindo apesar de suas próprias intenções.

Há um trecho das Sagradas Escrituras que nos diz: “Eis a praga com que o Senhor vai ferir todos os povos que atacaram Jerusalém: apodrecerá sua carne, estando eles ainda de pé; seus olhos apodrecerão dentro de suas órbitas, e a língua lhes apodrecerá dentro da boca. Naquele dia o Senhor semeará o pânico no meio deles, de sorte que se atacarão mutuamente, e levantarão as mãos uns contra os outros.” (Zc 14,12-13)

Eis aí, a descrição dos zumbis, sejam modernos ou antigos, estas características são comuns em muitas pessoas que conhecemos e que convivem conosco. Com o termos “apodrecerá a carne”, “seus olhos apodrecerão”, “a língua lhes apodrecerá dentro da boca” e “se atacarão mutuamente”, podemos tirar algumas conclusões em analogia ao que está acontecendo à nossa volta.

Cada vez mais pessoas desenvolvendo doenças psicossomáticas como o câncer (doença muitas vezes sem explicação de causa), que muitos padres e pastores atribuem ao se guardar o “veneno” do rancor e não sabermos lidar com o perdão de forma natural e gratuita.

Pessoas incapazes de ver a realidade como ela é, que confundem fatos com opiniões, onde você lhes apresenta um fato e elas te respondem: “não concordo!”. Como se o fato de não concordarem, retirasse do argumento o fato de ser fato!

E muitos indivíduos incapazes de usar a língua para causas verdadeiras e profundas, fixando o seu discurso somente na superficialidade, julgando a vivendo pelas aparências, e somando o seu discurso ao de uma multidão de pessoas, que não amam verdadeiramente, mas que se solidarizam e se suportam, em nome da conveniência e apenas pelo “valor” da força demográfica.

São verdadeiramente zumbis, os que se vestem segundo a moda, pensam conforme determinada ideologia, agem de acordo com a etiqueta do momento, que são manipuláveis, pois foram adestrados desde a infância pela TV e doutrinação escolar, que não conseguem acordar de seus sonos e sonhos que os mantém na ilusão de que quando se diz a verdade se está fazendo algo errado.

Os zumbis do politicamente correto, da moda, do bom-mocismo, da paz sem guerra, do amor sem sacrifício e da espiritualidade que abre mão da justiça em nome da misericórdia estão por aí. Eles lhe perseguirão a todo custo, pois sabem que no teu peito bate um coração que está vivo, um coração conforme o coração de Deus, que enfrenta tudo e encara tudo em nome da verdade nos mínimos detalhes, da coerência de vida e de discurso em todos os momentos primeiramente em sua própria vida e principalmente em nome do amor que você decidiu ter por eles. Ame os zumbis à sua volta, ame de verdade, reze por eles, mas não deixe de lhes trazer de volta ao chão. Eles irão espernear, tentarão te morder e até conseguirão algumas vezes, mas resista, ame até o fim, e como já disse Jesus:

“Sereis odiados de todos por causa de meu nome, mas aquele que perseverar até o fim será salvo.” (Mt 10,22)


Preparen-se para o Apocalipse Zumbie: https://www.youtube.com/watch?v=wz0Hw44Tjic
Como a cultura zumbi afeta as pessoas: https://www.youtube.com/watch?v=SPoybAemWM0
Zumbis – Uma história viva (Documentário): https://www.youtube.com/watch?v=XeB-nOAdpXg

quarta-feira, dezembro 16

5º. Testemunho: “Ame e faça o que quiser” (Sto Agostinho)

Enfim este é o quinto testemunho. Testemunho de uma família de 6 pessoas que, juntos passamos por tudo e vimos tudo que foi relatado. Poderia relatar aqui, os desmandos, as misérias ou os crimes que fomos testemunhas, ou ainda as heresias, profanações, sacrilégios, ameaças, perseguições e agressões físicas que passamos, mas isso iria arruinar a comunidade, e não é este o objetivo, e sim, chamar a atenção de todos, tanto amigos, benfeitores, consagrados, acolhidos e padres para o risco de deixar a comunidade morrer, esta responsabilidade é sua, que está lendo este texto.

Somente Deus conhece o interior do coração do homem, só Ele é capaz de saber as motivações, os interesses e as intenções dos nossos corações, por isso, posso ficar tranquilo, pois o que me motivou foi o desejo de vir à tona a verdade, o interesse foi a salvação das almas e as origens de minhas intenções estão no bem comum e tudo o que fiz e disse foi por amar, e não será diante de ninguém, se não somente diante de Deus que darei conta de minhas ações.

Deus sabe o quanto amo os consagrados e padres, irmãos de comunidade, e o quanto desejo que sejam santos e se salvem. Abri mão de seus elogios, de seus sentimentos e até do convívio em comunidade pra lembra-los de que a vida em Deus se faz todos os dias e que não importa a história que tivemos, por mais maravilhosa que tenha sido, ou se convivemos com um santo homem, se ainda estamos vivos, temos nossa alma a perigo. Não se esqueça disso meu irmão!

Deus age através de nós. Jesus para ressuscitar Lázaro pediu aos que estavam em Betânia que removessem a pedra. Remover a pedra é fazer a nossa parte! A nossa parte, na comunidade, é promover um ambiente saudável, onde reine a presença de Deus pela oração, que é o fundamento da restauração, pela convivência que deve sempre girar em torno das “coisas do alto” e pelo trabalho que deve ser vivido como um “privilégio sagrado” (palavras do fundador) e ao vermos a transformação que ocorre ao nosso redor, provocada por nossas mãos que trabalham, acabamos assimilando que é possível transformar a nossa vida. Nossa vida! Não apenas a vida dos acolhidos!

Assim sendo, o trabalho que não transforma a vida da pessoa, a convivência que não coloca Deus no centro e a oração que não nos leva ao encontro do outro e a morte de nossos interesses e vontades, não é o tipo de oração, convivência e trabalho que o fundador desejou para a comunidade.

Nosso papel dentro da comunidade é ser, no mínimo, exemplo de vida de oração, de vida fraterna e de um trabalho que nos transforme e nos melhore. O papel dos “sócios residentes” que assumiram uma vida consagrada é remover a pedra, como na Betânia bíblica, é ser exemplo de vida, dar testemunho de abnegação, solidariedade e sacrifício.

Se não fizermos isso, os muitos “Lázaros” que são chamados até de “filhos” (acolhidos) não serão ressuscitados e nunca sairão dos sepulcros. E o Senhor irá nos cobrar, irá nos pedir contas de cada acolhido e acolhida que passou por nossas vidas, e só não foram restaurados, por que não demos o nosso melhor.

Se fizermos tudo o que estiver ao nosso alcance, se dermos o nosso sangue, suor e lágrimas, ainda assim haverão aqueles que por sua liberdade irão optar por não saírem de seus sepulcros, mas se fizermos o nosso melhor, Deus irá fazer a parte dEle, honrando a nossa vida com a restauração dos nossos “filhos”. “Almas custam sangue” (Pe. Pio), e se não demos o nosso sangue, é por que ainda não estamos conseguindo as almas.

Hoje, de consciência tranquila, paz e a satisfação de ter cumprido o meu dever posso dizer: “Portanto, hoje dou testemunho diante de todos vós: eu não sou responsável se alguém se perder, pois não deixei de vos anunciar todo o plano de Deus a vosso respeito. Cuidai de vós mesmos e de todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos estabeleceu como guardiães, como pastores da Igreja de Deus que ele adquiriu com o seu sangue.” (At 20, 26-28)

Irmão, não se deixe enganar, se ainda estamos vivos, não importam os cargos, as doações, o status ou o prestigio que tenhamos nada disso irá nos salvar, pois no último dia, não será o testemunho das pessoas sobre nós que irá salvar-nos, mas o que fizemos com os dons que Deus nos deu...

Cada acolhido é um dom, que temos nas mãos e devemos fazer multiplicar, cada acolhido que vem a um recanto e sai sem ser restaurado, deve ser chorado, mas não apenas por ele, mas pelo dom que Deus nos deu e deixamos escapar entre seus dedos.

Estes 3 maravilhosos anos, serviram para mostrar a minha vocação: “Acolher cada um como o próprio Cristo”, seja onde eu estiver, aprendi que não é o fato de ser consagrado que me torna um consagrado, conheci acolhidos mais consagrados que padres, que amam mais Jesus do que os que “fizeram votos”.

Como foi importante para minha família o tempo que passamos na comunidade, antes de lá, só havíamos convivido com religiosos de verdade, com padres que eram pastores e com consagrados que davam sua vida aos irmãos, e depois disso, poder estar com tantos contra testemunhos nos deu a oportunidade de ver que a Igreja é sempre santa, e quanto mais nos afastamos de seus ensinamentos, do testemunho dos santos e da doutrina ensinada pelo magistério, mais nos pareceremos com aqueles que infelizmente se esqueceram do que é ser Igreja e de que suas almas estão a perigo e estão dentro da comunidade.

Como nos ensina o Eclesiástico 19,1b: “aquele que se descuida das pequenas coisas, cairá pouco a pouco.” Por isso, tomemos cuidado com as “pequenas” negligências, pois elas acabarão se tornando a nossa ruina e a nossa perdição.

Nossa consciência está tranquila, pois “antes de julgar, procura ser justo; antes de falar, aprende. Usa o remédio antes de ficares doente. Interroga-te a ti mesmo antes do juízo, e acharás misericórdia diante de Deus.” (Eclo 18,19-20) Temos tentado e nos esforçado para viver o propósito de aprender e de interrogar-nos sobre os nossos pecados, na vivência sacramental, na oração diária do santo rosário e na vida familiar e comunitária, tudo para Honra e Glória do Nome de Jesus e pela Graça de Deus e quem nos conhece, conhece os nossos frutos e “pelos frutos que se conhece a semente” (Lc 6,43).


Pai Santo, Pai Querido, Pai Amado, como é bom saber que cuida de nós, que ama e acolhe os nossos pecados e as nossas misérias, que nos ama de tal forma que nos dá a oportunidade de vermos em cada irmão a presença real de Cristo. Senhor Jesus, vós sois a razão de nossa vida e deste sua vida, paixão, morte e ressurreição para nos ensinar o que é amar e derramaste o Espírito Santo sobre nós. Santo Espírito, que habita em nosso peito, que inspira em nossos corações as obras e as ações, nos ilumine a todos. Santíssimas Trindades, que após esta vida, todos nós estejamos juntos de ti no Céu, vos louvo pela conversão e pela restauração de cada pessoa que está vivendo da comunidade e por tantos milhares que estão machucados pela comunidade, que encontrem o perdão e a cura e possamos gozar a vida como irmãos. Amém

quarta-feira, dezembro 9

4º. Testemunho: Chá de “Já tôbão”!

Existem muitos problemas com a vida religiosa, mas há alguns que estão relacionados com a mentalidade contemporânea, e que precisam ser combatidos para que a vida consagrada seja realmente consagrada.

O maior e principal deles, em minha opinião é o “já tôbão”. Que consiste em que o religioso, por “já ter” aberto mão do mundo e se introduzido em uma comunidade religiosa, ele já fez o que devia fazer e se sente desobrigado de fazer outras coisas ou fazer mais...

No caso da comunidade, os consagrados e padres que lá vivem, acreditam, que por já estarem vivendo com os dependentes químicos “já fizeram” mais do que deviam. Claro que eles não declaram isso, mas vivem isso!

Para constatar isso, basta que você descubra o horário da oração pessoal de algum deles (se há um horário específico, ou se há um horário para isso) e convidá-lo, por exemplo, para ir à uma pizzaria, ou se uma “visita” importante chega no recanto, ou um dos membros da diretoria da comunidade... sei lá, qualquer desculpa serve, para deixar a oração pessoal, acompanhamento dos acolhidos ou até a oração comunitária.

E quando conversam entre si você escuta aquela justificativa: “Eu já abri mão de tudo para estar aqui, que mal tem deixar uma tarefa para se fazer o que agrada, não é pecado!?”

É comum um acolhido entrar num recanto, passar 6 meses no recanto e nenhum consagrado sentar com ele em nenhum dos 330 dias que ele passou por lá para acompanha-lo, e quando é questionado, é comum se ouvir: “Quando eu era acolhido fiquei mais de um ano sem ser acompanhado e olha eu aqui!”. Esta mentalidade é comum na maioria dos consagrados.

E o pior nem é isso, o pior é quando um dos acolhidos questiona isso, pois ele lê no livro que dá todo o direcionamento das atividades de um consagrado e cobra os consagrados à vivência do que o fundador idealizou, e infelizmente, este acolhido, é taxado pelos consagrados com os mais variáveis rótulos: “pessimista”, “arrogante”, “sem discernimento”. E na pior das hipóteses, este acolhido, acaba sendo perseguido por um dos consagrados até que o acolhido, que está na comunidade para ser reparado, restaurado, acaba desistindo ou até sendo mandado embora.

Infelizmente presenciei uma cena terrível, um acolhido que estava na comunidade há 4 meses (128 dias) e nunca havia sentado com nenhum dos consagrados do recanto para conversar e ser acompanhado, (nesta época, minha esposa e eu não tínhamos autorização para acompanhar os acolhidos), e depois deste tempo todo, aquele acolhido, que era chamado de “filho” e deveria ser tratado como tal, ao questionar um dos consagrados que insiste e faz muita questão de ser chamado de “pai” pelos acolhidos (pai fulano), gritou para o acolhido: “se não está satisfeito, pegue suas coisas e vá embora!”

Simples assim... Aquele acolhido, que de fato estava lutando para permanecer na comunidade, lutando diariamente contra a abstinência da droga, que esperava ser acolhido e cuidado na comunidade, após abrir o coração e “reclamar” justamente algo que é propagandeado, mas não é feito, foi expulso do recanto sumariamente, sem reuniões, sem consultar os demais consagrados, sem nenhuma satisfação se não: “ele estava arrumando situação para ir embora e conseguiu”.

Mas, como a consciência deste e dos demais consagrados já está tomada pelo “já tôbão” ele se justifica para si mesmo e diz, que não é por falta de misericórdia ou de acolhimento que ele tomou esta atitude, e não é fruto de autoritarismo o fato dele não ter consultado os demais membros da comunidade, mas sim, é a ação do “espírito” nele que o autoriza agir daquela maneira. Obviamente, este consagrado especificamente depois até teve um problema mental sério, devido ao seu próprio afastamento da oração pessoal e da sua vida consagrada e é claro a sobrecarga que os padres da comunidade submetem aos consagrados, que também justificam o não cumprimento de suas atividades de consagrados com a sobrecarga de trabalho no recanto.

E este exemplo pontual, se repete em maior ou menor intensidade nos demais recantos da comunidade, onde os membros da comunidade, que deveriam viver em clima fraternal e familiar, vivem competindo pela atenção dos padres e por cargos para ter algum poder e assim oprimir os demais consagrados.

Isso fica claro nos cargos de “superior” e de “administrador” dos recantos. É caricato o consagrado que assume a função de administrador num dia, no dia seguinte é tratado com maior honra e “puxa-saquismo” pelos demais consagrados da comunidade. É tratado como chefe e patrão. Assim como tratam os padres e os padres os tratam, assim eles tratam entre si.

O consagrado com função de administrador, se acha no direito de nem mesmo participar das reuniões semanais, ou das orações comunitárias e muito menos dos momentos de convivência, pois “ele é mais importante que os outros”. E como é triste ver quando aparecem câmeras e holofotes que este consagrado é sempre o primeiro a aparecer. Claro, que esta atitude foi aprendida com o presidente da comunidade que age da mesma forma.

Houve um caso, certa vez, que um consagrado, aquele que gosta de ser chamado de “pai fulano”, que era o superior do recanto, quando teve o surto, no dia seguinte, a mando dos próprios padres, teve seu filho, que residia com ele no recanto, expulso da comunidade. Depois que o tal consagrado voltou para o recanto, os padres disseram que foi culpa da administradora, que continua insistindo que fez tudo por que os padres mandaram. Resultado: se dizem irmãos, mas na hora de serem irmãos, são os piores inimigos uns dos outros.

Faça você mesmo a experiência, sente com um consagrado e seja sincero emitindo sua opinião sobre os consagrados com cargos, imediatamente você irá ouvir, da boca do consagrado, que deveria zelar pela vida dos irmãos que já tem a sobrecarga dos cargos, as coisas mais atrozes e terríveis uns dos outros. Coisas que nunca são ditas diretamente. Coisas que na convivência com todos nunca é tocada.

Graças a Deus, e ao fundador da comunidade, minha esposa e eu aprendemos que esta é a cultura do “BBB”, é a cultura dos “cristãos light” e nunca fomos coniventes com isso. Em todas as reuniões tratávamos o que precisava ser tratado e dizíamos o que estávamos sentindo e precisava ser dito, e por isso mesmo, nunca fomos acolhidos no coração da maioria.

Mas isso se deve à mentalidade e ideologia pregada e ensinada pelo presidente da comunidade que insiste em dizer a todos: “É mais importante saber dizer do que dizer”. Colocando o politicamente correto na frente de todas as relações sociais, e é claro propagando a cultura da omissão, da negligência e da má vontade. Quando o profeta disse para o Senhor, que ele não sabia falar, a resposta do Senhor foi: “porquanto irás procurar todos aqueles aos quais te enviar, e a eles dirás o que eu te ordenar.” (Jr 1,7)

Sabe...muitas vezes este diálogo passou pela minha cabeça. O Senhor dizendo ao presidente da comunidade para profetizar e dizer as verdades que ele conhece, sente e sabe que precisa dizer, mas ele respondendo: “Senhor, vós não sabeis que é mais importante saber dizer que dizer, por isso, como eu não sei como dizer, então vou ficar quieto”. E o Senhor dizendo pra ele: “Não digas que não sabes falar, vai falar por Mim”. E o presidente (que é chamado de prefeito pelos consagrados) fica quieto, pois, justifica sua consciência para si mesmo: “eu já assumi esta comunidade, sem ter querido fazer isso, ‘já tôbão’ e não preciso fazer mais nada”.


E não faz mesmo, não cumpre horários, não cumpre com suas promessas, desmarca compromissos, coloca seu bem estar na frente dos demais, faz uma igreja inteira esperar pelos seus caprichos de não “gostar de relógio” e começar a Santa Missa com um atraso de uma hora e ainda faz uma hora de homilia para justificar o seu atraso. Por isso, a “culpa” nem é tanto dos consagrados, pois estes estão aprendendo com o presidente, que faz questão de não fazer mais nada do que já faz, pois à final de contas... Ele “já tá bão!”

quarta-feira, dezembro 2

3º. Testemunho – Imitação do Cristo

Como já contei no 1º e 2º Testemunho, sobre a comunidade de vida em que vivi por três anos com minha família, que também é uma comunidade terapêutica fundada por um padre muito querido e famoso no Brasil, que se destacou por uma pregação bem humorada e faleceu em 2007 vitima do câncer, dando um testemunho maravilhoso seguindo na radicalidade o versículo “Buscai as coisas do alto” (Cl 3,1).

No primeiro testemunho, tentei expor o maior problema da comunidade, e no segundo o caminho que ela está tomando deixando de ser uma comunidade religiosa, que busca a restauração das pessoas, e também dos dependentes químicos, e se tornando uma instituição sem alma que busca somente o interesse de quem está à frente.

E agora, é importante dizer, que o fundador da comunidade, assim como todo homem santo e profeta, carrega em si e em seu modo de vida, a profecia e o anúncio que recebeu de Deus, e assim como em Jesus, quem O olhava, quem estava com Ele e quem O conhecia, já estava em contato com a Palavra de Deus. O mesmo acontece com os santos, quem os conhece e os vê, já está diante da profecia que Deus quer lhe anunciar.

Ora, se isso é verdade, e já sabemos que é, quem sabe destas coisas, terá uma importante tarefa, que poderá salvar a sua alma, que é a tarefa de imitar o santo que conheceu. Infelizmente o atual presidente gosta de repetir, que “não pretende ser um novo ‘fundador’” e que ele não é “igual” ao fundador. Diz isso, para que não o cobrem tal testemunho.

Agora, você imagina se, em tal tentação caíssem os apóstolos e se eles dissessem “Não somos Jesus e não pretendemos ser um novo Jesus”, “Uma coisa é a vida de Jesus, e outra coisa é a Igreja” ou ainda “não pretendemos ser iguais a Jesus”.

Pelo que nos consta, sabemos que Jesus é o modelo da Igreja (Ele é a própria Igreja), e que o fundador de uma comunidade, é o modelo da comunidade, Jesus viveu naquele homem, logo se o imitarmos, pois, é bem mais fácil imitar o fundador do que Jesus, estaremos caminhando na direção certa, rumo à nossa salvação.

Então, o mais correto, seria que o atual “prefeito” da comunidade, o suposto sucessor, morresse para si mesmo, na tentativa de ser igual em tudo ao fundador, e consequentemente, Deus confirmaria o seu ministério, lhe dando, é claro, a exclusividade de sua própria vida e do seu jeito de pensar e agir.

Ele seria um novo “fundador”, e com sua própria maneira de ser. Porém, infelizmente na vã tentativa de se auto afirmar, ele não só não imita o fundador, como ainda denigre a sua imagem ao dizer que “há coisas que são do fundador e outra coisa que é o carisma”, demonstrando assim que “só ele” (o prefeito) sabe (por que julga ter tal clarividência) o que é o carisma, como se o próprio fundador desconhecesse o carisma.

Outra consequência disso, é que ao invés de termos consagrados que imitem o fundador, temos “supostos consagrados” que imitam o prefeito, e são repetidores do pensamento defeituoso e mesquinho do prefeito. Que colocam seus interessem em primeiro lugar e que não se dedicam à vida com Deus, no irmão, assim como o prefeito faz.

Se o prefeito deixasse de ser “prefeito” e lutasse dia e noite por exigir de si mesmo o compromisso que o fundador tinha, mesmo que ele nunca conseguisse, o Senhor, confirmaria sua obra e a obra do fundador, a comunidade, estaria de fato crescendo e não apenas fingindo que está, em encenações que atraem pessoas, mas que espantam a vontade de Deus.

Um exemplo disso é na “grande comemoração” de aniversário da comunidade, em que se celebrou a renovação dos “votos” de inúmeras pessoas que já haviam dito que não os renovariam, pessoas que não tinham condição nenhuma de renovar os votos, pois estão em situação irregular diante até mesmo dos sacramentos.

Não estou condenando ninguém, basta que o prefeito se converta e imite o fundador, e todos irão segui-lo. Quanto aos irregulares, que regulem a vida e ingressem no compromisso que o fundador tinha com a obra e testemunhou isso até o último suspiro, e não imitem o descompromisso do prefeito.

Esta obra é de Deus. Não será o descompromisso do prefeito ou a negligência dos que são próximos à ele que irá destruí-la. Na verdade, o que é de Deus, permanece e o que é do homem ou muda ou morre.


Que o Senhor Jesus, nos dê a graça da conversão e que, neste advento, Jesus traga um novo ânimo à nossa comunidade e que os inúmeros “prefeitos” se convertam em novos fundadores, cunhados à partir dos moldes que Tu, Senhor, formou o fundador, e que a sociedade ao olhar para a comunidade, vejam, de verdade, e não apenas de maneira superficial e vã, como agora, que cada consagrado, padre e acolhido, trás em si, traços da personalidade do fundador, tão fortes que até sejam capazes de exprimir: “Já não são eles que vivem, mas o fundador que vive neles.” Por intercessão de Maria, Mãe da Igreja e por Jesus Cristo nosso Senhor. Amém.