terça-feira, abril 26

O Deus pecador


“A Paixão de Jesus é a maior e extraordinária obra do divino amor, é o milagre dos milagres do amor de Deus.”
(São Paulo da Cruz)

Pode um Deus ser livre? Deus é a verdadeira liberdade, a única liberdade possível. Pode um Deus se mover a velocidade da Luz? Deus é a verdadeira luz, a única luz possível. Pode um Deus ser tão grande, e ter tantos poderes? Deus é a única e verdadeira grandeza e o único poder.

Num mundo cheio de dúvidas e sofrimentos, Deus se põe como a única certeza e a única e verdadeira cura. Num coração tão pecador, pode Deus ter algum valor?

Como posso chegar a Deus, se sou o único empecilho? Quem me dera a graça de ter como empecilho uma prisão, um demônio ou ainda uma doença incurável, um câncer, uma lepra, um assassino a me perseguir, pois assim poderia eu dizer que não depende de mim... mas não é assim.

Mesmo que houvesse um exército a me impedir de me aproximar de Deus, mesmo assim eu poderia encontrá-lo, pois não são os homens que impedem a aproximação de Deus, nem mesmo meu pecado, sou apenas eu e minha vontade.

Um coração duro, que em nada parece com o coração de Deus, mas que mesmo assim encontra amor, perdão e misericórdia diante do coração amoroso de Deus. E o que dói mais, é saber que nunca... nunca o amarei em plenitude, em grandeza, ou em quantidade que Ele merece. Nunca poderei eu corresponder a este amor.

Nem se eu consagrasse toda minha vida, minhas obras, meus bens. Mesmo que eu tivesse todos os dons e curasse todas as almas, mesmo que eu conseguisse converter todos os coração da Humanidade, mesmo assim, isso não seria uma gota de retribuição a este amor.

E o que mais me constrange... é saber que em nada sou capaz de sofrer por Ele. Em nada sou eu capaz de lhe retribuir uma gota de Seu Sangue, em nada sou capaz de falar ou agir para lhe retribuir seu sofrimento diante de meu pecado.

E eu pergunto ao meu coração. Se você pudesse escolher, nunca sofrer. O que escolheria? Diga-me egoísta coração, o que escolheria? Sofreria, mesmo que não precisasse? Amaria, mesmo que isso não lhe acrescentasse nada a sua vida? Escolheria ter chagas, quando em nada isso lhe serviria? Claro que não! Escolheria a vida, a alegria, a sabedoria o gozo... mas nunca a CRUZ.

Mas Ele, escolheu sofrer. O maior absurdo, Deus sofre, pela miséria que sou eu. Por este coração ingrato e miserável. Deus é um louco. Deus é um apaixonado louco e passional. Sua paixão por mim o cegou. Porém, mesmo sendo capaz de espreitar todas as minhas inconstâncias, misérias, nojeiras, caprichos, mesmo sujo com meus próprios fluídos, fruto de minha busca por prazer que não tem fim. Deus me olha e não enxerga meus pecados.

Deus é um louco, que já tinha tudo, mas escolheu se diminuir, se rebaixar e querer precisar de mim para algo. Deus é um louco, não sabe que na primeira oportunidade o venderia eu por bem menos que 30 moedas. Não sabe Ele que a brandura das atitudes do apóstolo decaído, são pequenas diante das minhas? Não sabe Ele que a mão, o prego e o martelo que perfuraram seu corpo sou eu. Não sabe que meu coração deseja que Ele sofra, que ele morra e que não ressuscite?! Que seja liberto todo Barrabas do mundo, ao invés de Sua liberdade.

Por que e para quê, este Deus louco me atormenta com suas declarações de amor, desde o nascer ao pôr do sol? Por que distribuir sacramentos a quem não se cansa de cuspir e urinar sobre o sagrado, esperando que ele se acabe e assim meu tormento vá embora?! Por que um Deus que poupa as pérolas até aos porcos, não poupa doar-Se a mim? Que profanação Meu Deus!

Não há pedido de perdão que Ele não escute, mesmo que minhas intenções sejam apenas para receber em troco, a paga do Seu próprio sofrimento na Cruz! Meus pecados são minha paixão, mas mesmo assim, o Deus passionista, se apaixonou por este coração. O pecado de Deus é seu vício em se apaixonar por mim.

Que Ele tenha piedade de Sua própria alma, por ter Se profanado de tal maneira. Pois eu o causarei todo sofrimento possível na tentativa de lhe arrancar tudo o que Ele tem e É. Quando irá decidir parar de me recriar, para que eu possa parar de fazê-lo sofrer?

Quem me dera não ter existido, para enfim, poder lhe retribuir o que Ele fez por mim.