sábado, março 23

O Pé de mostarda


Foi um dia memorável e de muita expectativa. Esperava que o dia passasse logo, pois ainda estávamos no meio da semana, uma quarta-feira chuvosa e fria. Era 13 de março, véspera do meu trigésimo terceiro aniversário, e dia dedicado à Nossa Senhora, pois todo dia 13 dos meses é dia que Nossa Senhora pediu para ser dedicado à ela... e tenho de confessar, eu estava ansioso. O conclave havia acabado de começar, tinha apenas um dia. A imprensa mundial anunciando o fim da Igreja e tentando mundanizar o conclave, realçando os pecados individuais dos membros do Colégio Cardinalício, e eu ali, lutando internamente para não acreditar. Bento XVI estava sendo acusado de covarde, coisa que sei que nunca foi e nunca será, e meu coração estava assim, inquieto e esperançoso, ao mesmo tempo que ansioso e com medo...

Então, uma mensagem ao celular anuncia uma notícia maravilhosa, minha mãe que nos dizia: “Fumaça branca...” Que alegria, eu sai correndo gritando pelos corredores da casa: FUMAÇA BRANCA... FUMAÇA BRANCA... Bati com muita força o sino de aviso do recanto que vivemos e gritava a plenos pulmões: “HABEMUS PAPAM”.


Foi um momento muito feliz... todas as preocupações haviam desaparecido. O que será da Igreja? Não importa. O que faremos? Não quero saber. Quem será? Não interessa... O Espírito Santo agiu, e escolheu por meio da vontade humana dos Cardeais (o coração da Igreja) alguém que é o Papa, o Sucessor de Pedro, alguém em quem podemos confiar, não como homem, mas como instrumento de Deus, independente de suas falhas... alguém que poderemos deitar sob sua sombra e esperar curas e libertações.

Ligamos a TV e começamos a esperar pra saber quem era. Após muita expectativa e júbilo, emergiu da sacada da Igreja de São Pedro, uma figura desconhecida, com gestos muito conhecidos, porém, nunca vistos vindos daquela janela. Gestos inesperados e que ecoaram no fundo de meu coração... Era o Papa, que assumira para si o nome de Francisco I. Nome de meu santo de devoção mais terno. Nome que me lembra a reconstrução da Igreja e aquele que pregou aos 4 cantos, que “O amor não é amado”.

Chamou-me atenção sua cruz peitoral... Parecia diferente, não era de ouro, de fato, é uma cruz de ferro, uma cruz linda, mas de ferro. Não uma cruz imposta pela pompa de ser Papa, mas assumida tal como é por ser ela um sinal de que ali, não estava apenas um papa, mas sim um discípulo, um apóstolo, um cristão... um Católico. Não apenas em palavras, mas em atitudes. De fato, ali estava um santo padre.

Quando começou a falar, parecia que falava português, pois eu o entendia, mas era o italiano que depois vinha ser traduzido muito mau e porcamente pela TV mundana que transmitia o espetáculo. E num primeiro momento, pude ver nos olhos daquele homem a devoção não por si mesmo, mas pelo símbolo de ser uma ponte, de fato, aquele homem podia dizer, eu conheço tudo deste novo Pontífice, e sua preocupação estava estampada em seus olhos. Que foram sorrindo, aos poucos de dentro pra fora, com a emocionante visão da Praça de São Pedro lotada de ovelhas que aguardavam o pronunciamento do pastor.

E o pastor falou... Que palavras, que força, que gestos... Inclinou sua cabeça e pediu a benção dos fiéis, num gesto inédito e numa resposta unânime de silêncio e oração, milhões de pessoas, e por que não dizer, milhares, pois me incluo, mesmo que apenas assistindo por uma TV. Vi as pessoas ao meu redor, estender a mão para a TV e começarem a interceder por um homem que apenas havia pedido para que rezassem por ele...

Um gesto simples, mas que disse muito. Aliás, Francisco iniciou uma sucessão de gestos simples que deram início a reflexões profundas em meu coração. No dia seguinte, em sua primeira Missa, nos apresentou o sentido da Igreja: “Caminhar, edificar e confessar...”

Caminhar na luz do Senhor. No Evangelho de São João, Jesus nos é apresentado como a luz dos Homens. A luz que nos faz conhecer a nós mesmos, que nos apresenta o próximo e nos revela Deus. Francisco nos exorta a caminharmos na presença do Senhor. Não como fez adão, que se escondeu do Senhor. Devemos caminhar e não parar... quando paramos, ficamos para trás.

Edificar a Igreja, que é a Esposa de Cristo, sobre a Pedra Angular que é o próprio Cristo. Edificar, é construir, é erguer, é portanto, reconstruir, pois de fato, a Igreja já está construída. Mas como São Francisco foi chamado a reconstruir a Igreja, este nosso Francisco quer, assumir para si, e nos ajudar a fazer o mesmo, que é reconstruir a Igreja sobre Cristo. Não apenas a Igreja Universal, mas também as Igrejas Particulares, a Igreja Doméstica, a igreja individual que somos cada um de nós.

Confessar Jesus Cristo. Este Pedro, que conhece bem a vida e a caminhada do cristão, aponta para o modo de viver de cada cristão e portanto de toda a Igreja. Como Pedro, confessou Jesus como o Cristo, assim também nós, devemos confessar Jesus em nossa vida. Devemos ser sinal de Jesus no mundo, caso contrário, seremos qualquer outra coisa, e esta outra coisa, é mundana, demoníaca e pueril... é algo que passa. Ele chega a comparar a Igreja com uma ONG piedosa, caso não confesse a Jesus como Cristo e salvador do mundo.

E desde então é isso que ele tem feito, por meio de seus gestos.

Ao voltar no alojamento onde permaneceu até o fim do conclave, ainda como Cardeal Primaz da Argentina, nos mostra que antes de ser papa, antes de ser pontífice, antes de ser chefe de estado, é um homem que assumiu compromissos. Ele não está assumindo mais um compromisso, sua eleição como papa é a conseqüência lógica de compromissos que ele próprio assumiu a muito tempo, firmado no Batismo, confirmado em seu Crisma, confessado em suas confissões e continuado em suas comunhões. Ele não irá ser cristão, santo, bom, honesto, virtuoso a partir de agora. Ele será aquilo que sempre foi desde sua primeira conversão... Discípulo de Jesus.

O que esperar de um discípulo de Jesus, que não se podia esperar de um papa?

Parece contraditória, mas de fato, ser papa é algo que nem todo discípulo de Jesus é capaz, pois até Bento XVI, era necessário renunciar a muita coisa, coisas estas que poderiam fazer um cristão deixar de ser discípulo. E muitos papas deixaram de ser discípulos e escandalizaram toda a Igreja com suas quedas, pois ao invés de serem o Pedro, rocha firme por estar próximo de Jesus, foram o Simão covarde que nega seu Senhor por estar apenas o assistindo de longe.

Ele cancela a limusine. Ele pede que os argentinos não gastem dinheiro para ir vê-lo, mas que o apliquem à caridade. Recebe os Cardeais de pé e não sentado no trono de Papa que é seu por direito. Surpreende seus colegas ao se deslocar de ônibus junto com eles. E telefona ele mesmo aos seus amigos para agradecer as mensagens de carinho.

Francisco de fato, dá o exemplo e nos garante que, de sua parte, continuará a ser seguidor de Jesus. Continuará a ser Católico. Continuará a ser o que sempre foi, apesar de ser papa.

Depois de assistirmos Bento XVI nos dizer o que fazer, com plena convicção e com plena força, porém, sem a liberdade que tanto desejou, e não alcançou. Vemos este Francisco I, colocar em prática e realizar as obras que até os papas sempre esperavam de si mesmos mas nunca o fizeram por estarem presos a realidade de serem algo para o qual nunca estiveram prontos.

Francisco I começou ainda semente pequena, como um grão de mostarda sendo plantado por ninguém menos que o Beato João Paulo II. Cultivado, regado e podado por um gigante na economia e agricultura Divina, que é Bento XVI, hoje resulta nesta linda e florida árvore, onde todos podemos nos abrigar com a certeza de que é um ramo fixo na vara que é Cristo. Seja bem vindo Francisco.

Um comentário:

  1. É isso aí: Fumaça branca para toda a Igreja de Cristo, apesar de toda fumaça negra que o demônio tenta lançar sobre ela. Mas, confiantes em Deus, através da esperança que nos traz Francisco I, lembramos e agradecemos a promessa de Jesus: "Jamais as portas do inferno não prevalecerão sobre ela." (Mateus 16,18). Deus seja louvado! Amém.

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Que Deus não permita que a Verdade não seja vista por nossos olhos e nem deixada de ser dita por nossas bocas! Paz e bem