Foi
um dia memorável e de muita expectativa. Esperava que o dia passasse logo, pois
ainda estávamos no meio da semana, uma quarta-feira chuvosa e fria. Era 13 de
março, véspera do meu trigésimo terceiro aniversário, e dia dedicado à Nossa
Senhora, pois todo dia 13 dos meses é dia que Nossa Senhora pediu para ser
dedicado à ela... e tenho de confessar, eu estava ansioso. O conclave havia
acabado de começar, tinha apenas um dia. A imprensa mundial anunciando o fim da
Igreja e tentando mundanizar o conclave, realçando os pecados individuais dos
membros do Colégio Cardinalício, e eu ali, lutando internamente para não
acreditar. Bento XVI estava sendo acusado de covarde, coisa que sei que nunca
foi e nunca será, e meu coração estava assim, inquieto e esperançoso, ao mesmo
tempo que ansioso e com medo...
Então,
uma mensagem ao celular anuncia uma notícia maravilhosa, minha mãe que nos
dizia: “Fumaça branca...” Que alegria, eu sai correndo gritando pelos
corredores da casa: FUMAÇA BRANCA...
FUMAÇA BRANCA... Bati com muita força o sino de aviso do recanto que
vivemos e gritava a plenos pulmões: “HABEMUS
PAPAM”.
Foi
um momento muito feliz... todas as preocupações haviam desaparecido. O que será
da Igreja? Não importa. O que
faremos? Não quero saber. Quem será? Não interessa... O Espírito Santo agiu,
e escolheu por meio da vontade humana dos Cardeais (o coração da Igreja) alguém
que é o Papa, o Sucessor de Pedro, alguém em quem podemos confiar, não como
homem, mas como instrumento de Deus, independente de suas falhas... alguém que
poderemos deitar sob sua sombra e esperar curas e libertações.
Ligamos
a TV e começamos a esperar pra saber quem era. Após muita expectativa e júbilo,
emergiu da sacada da Igreja de São Pedro, uma figura desconhecida, com gestos
muito conhecidos, porém, nunca vistos vindos daquela janela. Gestos inesperados
e que ecoaram no fundo de meu coração... Era o Papa, que assumira para si o
nome de Francisco I. Nome de meu santo de devoção mais terno. Nome que me
lembra a reconstrução da Igreja e aquele que pregou aos 4 cantos, que “O amor
não é amado”.
Chamou-me
atenção sua cruz peitoral... Parecia diferente, não era de ouro, de fato, é uma
cruz de ferro, uma cruz linda, mas de ferro. Não uma cruz imposta pela pompa de
ser Papa, mas assumida tal como é por ser ela um sinal de que ali, não estava
apenas um papa, mas sim um discípulo, um apóstolo, um cristão... um Católico.
Não apenas em palavras, mas em atitudes. De fato, ali estava um santo padre.
Quando
começou a falar, parecia que falava português, pois eu o entendia, mas era o
italiano que depois vinha ser traduzido muito mau e porcamente pela TV mundana
que transmitia o espetáculo. E num primeiro momento, pude ver nos olhos daquele
homem a devoção não por si mesmo, mas pelo símbolo de ser uma ponte, de fato,
aquele homem podia dizer, eu conheço tudo deste novo Pontífice, e sua
preocupação estava estampada em seus olhos. Que foram sorrindo, aos poucos de
dentro pra fora, com a emocionante visão da Praça de São Pedro lotada de ovelhas
que aguardavam o pronunciamento do pastor.
E o
pastor falou... Que palavras, que força, que gestos... Inclinou sua cabeça e
pediu a benção dos fiéis, num gesto inédito e numa resposta unânime de silêncio
e oração, milhões de pessoas, e por que não dizer, milhares, pois me incluo,
mesmo que apenas assistindo por uma TV. Vi as pessoas ao meu redor, estender a
mão para a TV e começarem a interceder por um homem que apenas havia pedido
para que rezassem por ele...
Um
gesto simples, mas que disse muito. Aliás, Francisco iniciou uma sucessão de
gestos simples que deram início a reflexões profundas em meu coração. No dia
seguinte, em sua primeira Missa, nos apresentou o sentido da Igreja: “Caminhar,
edificar e confessar...”
Caminhar
na luz do Senhor. No Evangelho de São João, Jesus nos é apresentado como a luz
dos Homens. A luz que nos faz conhecer a nós mesmos, que nos apresenta o
próximo e nos revela Deus. Francisco nos exorta a caminharmos na presença do
Senhor. Não como fez adão, que se escondeu do Senhor. Devemos caminhar e não
parar... quando paramos, ficamos para trás.
Edificar
a Igreja, que é a Esposa de Cristo, sobre a Pedra Angular que é o próprio
Cristo. Edificar, é construir, é erguer, é portanto, reconstruir, pois de fato,
a Igreja já está construída. Mas como São Francisco foi chamado a reconstruir a
Igreja, este nosso Francisco quer, assumir para si, e nos ajudar a fazer o
mesmo, que é reconstruir a Igreja sobre Cristo. Não apenas a Igreja Universal,
mas também as Igrejas Particulares, a Igreja Doméstica, a igreja individual que
somos cada um de nós.
Confessar
Jesus Cristo. Este Pedro, que conhece bem a vida e a caminhada do cristão,
aponta para o modo de viver de cada cristão e portanto de toda a Igreja. Como
Pedro, confessou Jesus como o Cristo, assim também nós, devemos confessar Jesus
em nossa vida. Devemos ser sinal de Jesus no mundo, caso contrário, seremos
qualquer outra coisa, e esta outra coisa, é mundana, demoníaca e pueril... é
algo que passa. Ele chega a comparar a Igreja com uma ONG piedosa, caso não
confesse a Jesus como Cristo e salvador do mundo.
E
desde então é isso que ele tem feito, por meio de seus gestos.
Ao
voltar no alojamento onde permaneceu até o fim do conclave, ainda como Cardeal
Primaz da Argentina, nos mostra que antes de ser papa, antes de ser pontífice,
antes de ser chefe de estado, é um homem que assumiu compromissos. Ele não está
assumindo mais um compromisso, sua eleição como papa é a conseqüência lógica de
compromissos que ele próprio assumiu a muito tempo, firmado no Batismo,
confirmado em seu Crisma, confessado em suas confissões e continuado em suas
comunhões. Ele não irá ser cristão, santo, bom, honesto, virtuoso a partir de
agora. Ele será aquilo que sempre foi desde sua primeira conversão... Discípulo
de Jesus.
O
que esperar de um discípulo de Jesus, que não se podia esperar de um papa?
Parece
contraditória, mas de fato, ser papa é algo que nem todo discípulo de Jesus é
capaz, pois até Bento XVI, era necessário renunciar a muita coisa, coisas estas
que poderiam fazer um cristão deixar de ser discípulo. E muitos papas deixaram
de ser discípulos e escandalizaram toda a Igreja com suas quedas, pois ao invés
de serem o Pedro, rocha firme por estar próximo de Jesus, foram o Simão covarde
que nega seu Senhor por estar apenas o assistindo de longe.
Ele
cancela a limusine. Ele pede que os argentinos não gastem dinheiro para ir
vê-lo, mas que o apliquem à caridade. Recebe os Cardeais de pé e não sentado no
trono de Papa que é seu por direito. Surpreende seus colegas ao se deslocar de
ônibus junto com eles. E telefona ele mesmo aos seus amigos para agradecer as
mensagens de carinho.
Francisco
de fato, dá o exemplo e nos garante que, de sua parte, continuará a ser
seguidor de Jesus. Continuará a ser Católico. Continuará a ser o que sempre
foi, apesar de ser papa.
Depois
de assistirmos Bento XVI nos dizer o que fazer, com plena convicção e com plena
força, porém, sem a liberdade que tanto desejou, e não alcançou. Vemos este
Francisco I, colocar em prática e realizar as obras que até os papas sempre
esperavam de si mesmos mas nunca o fizeram por estarem presos a realidade de
serem algo para o qual nunca estiveram prontos.
Francisco
I começou ainda semente pequena, como um grão de mostarda sendo plantado por
ninguém menos que o Beato João Paulo II. Cultivado, regado e podado por um gigante
na economia e agricultura Divina, que é Bento XVI, hoje resulta nesta linda e
florida árvore, onde todos podemos nos abrigar com a certeza de que é um ramo
fixo na vara que é Cristo. Seja bem vindo Francisco.
É isso aí: Fumaça branca para toda a Igreja de Cristo, apesar de toda fumaça negra que o demônio tenta lançar sobre ela. Mas, confiantes em Deus, através da esperança que nos traz Francisco I, lembramos e agradecemos a promessa de Jesus: "Jamais as portas do inferno não prevalecerão sobre ela." (Mateus 16,18). Deus seja louvado! Amém.
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