terça-feira, abril 18

Penso, logo... Sou obrigado a me explicar?

A linguagem é essencial à comunicação do ser humano, porém, o pensamento, ao menos a princípio não exige a linguagem. A linguagem surge da necessidade de se comunicar com os demais seres humanos, e como nos comunicamos quase que o tempo todo, acabamos pensando na língua que falamos e na linguagem com que nos comunicamos. Mas há o conhecimento que é adquirido sem linguagem, por meio da simbologia natural, é esta “linguagem” que Deus usa para se comunicar conosco, é um método universal. É algo sem definições e conceitos, é chamado de fé, pois não tem uma lógica linguística, mas exige o uso da razão, caso contrário não seríamos capazes de perceber e muito menos de interagir, como fazemos na oração. A linguagem exige uma convenção, e Deus não é uma convenção, é um ser, uma pessoa, alguém. Ele, falou tudo em Jesus. Jesus é a sua linguagem e sua ideia.

A linguagem pré-supõe as ideias, sem as ideias, não haveria linguagem, mas sem a linguagem não haveria meio de transmitir as ideias. A linguagem tornou-se tão importante, que quase que não precisa mais das ideias, e as ideias tornaram-se completamente dependente da linguagem; por isso, dominar a linguagem é preponderante na transmissão das ideias. Mas é preciso que o ser racional liberte-se das linguagens em seu interior, pois pensar por meio da linguagem é inútil e significa atraso, além é claro, de uma óbvia dificuldade de relacionamento consigo mesmo. Inútil pois a linguagem serve apenas para comunicar, exteriormente, o que se pensa. É um atraso por que limita o pensamento a tal ponto que, ha casos em que mesmo a experiência mais real, por vezes subjetiva, que não se consegue expressar pela linguagem é tida como, desimportante, ou até, inexistente, fictícia e imaginária. E logicamente, para nos comunicarmos conosco, o nosso relacionamento íntimo e privado, não há necessidade de linguagem, mas, a dependência da linguagem acaba gerando uma dificuldade, pois se o que não pode ser expresso não existe, muitas vezes, nossos sentimentos e experiências mais reais, são, por nós mesmos considerados inexistentes. Este cacoete mental, limita o universo ao mundo da linguagem e das ideias transmissíveis; é necessário um retorno do ser humano ao mundo interior, ao mundo que por vezes não pode ser comunicado, mas que é tão real, ou até mais real, do que aquilo que pode ser expresso pela linguagem. Digo: mais real; pois, muitas vezes, o mundo das ideias não passa de um “castelo de areia”, que não tem base na experiência real, mas na fabricação das ideias e das ideologias. Toda ideologia é no fundo, um grande castelo de areia, sem pé na realidade, mas um construto linguístico mental. Abrir mão da capacidade de comunicar-se, por vezes pode ser doloroso, implica uma solidão absoluta, porém, se esta experiência envolve a experiência da presença do ser, abrir mão da linguagem é conservar a própria autenticidade, unicidade e individualidade. De modo geral, as experiências indizíveis pode ser que nunca sejam explicadas, mas podem ser vividas e assimiladas, integradas à nossa personalidade e aos nosso valores, formando em nós o que nós somos e o que é a essência do nosso ser. Tentar explicar o que é indizível, é abrir mão de si mesmo e confundi-se com o mundo das ideias e ideologias, que apesar de serem atraentes, nos levam cada vez mais para longe de nós mesmos e da realidade por nós percebida. A pior consequência disso, é certamente, perder a capacidade de “ouvir” a vós indizível de Deus, e se colocar diante Dele, somente, por meio de uma máscara ideológica que não somos nós. E Deus não fala com máscaras, Ele apenas ouve o que é real, honesto e verdadeiro.