quarta-feira, outubro 3

O fideismo da razão


Por estes dias, em um debate, topei com uma figura, que já se tornou mais comum que vento quando chove. Um rapaz, de palavras “cultas” dizendo o quanto a Igreja Católica matou, roubou e enganou o mundo com sua perversidade e traição ao Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Suas palavras eram duras, mas revelavam a fraqueza de sempre, pois assim como o insensato que destila seu conhecimento filosófico, citando os filósofos e não suas filosofias, o mesmo fazia meu intrépido interlocutor, citando datas, e nomes de imperadores romanos que se “converteram” ou ainda os anos em que aconteceram tais e tais fatos.

Porém, quando argumentamos não apenas pela história conhecida, mas pela lógica estabelecida, o mesmo se arrojava em encontrar adjetivos à minha pessoa como uma cartomante eletrônica que me conhece melhor que eu, apenas ao olhar um nome fictício numa tela de computador.

O pior de todo este embaraço, é que meu caro oponente se arrogava o direito de católico sendo ele próprio o defensor da Fé, que ao mesmo tempo e sistematicamente se empenhava em provar que não só estava enganada, mas como também era perversa.

Em nome de um “espírito crítico” para não passar entre os amigos como fideista condenado à ignorância, meu aguçado bandeirante da fé, repetia como um instrumento quebrado que apenas sabe tocar uma única nota, como se fosse proibido apenas tomar o conhecimento de outro ponto de vista, e por seus olhos o maior pecado estava eu a cometer, ao lhe indicar bibliografias, que apenas por apresentar conceitos e fatos diferentes, do que o que ele estava acostumado, não seriam dignas nem mesmo de serem mencionadas.

Em resumo, nossa época bem poderia chamar-se modernismo, pois a época dos pensantes, a começar por mim já se extinguiu. Hoje não é proibido pensar, mas é proibido apresentar a uma pessoa, qualquer conhecimento oposto aos que constam em suas bibliotecas cerebrais com tanto espaço vazio e tão pouco conteúdo diversificado.

Se eu fosse desconfiado, seria imparcial na escolha das fontes de uma informação para a construção de uma visão crítica a respeito de um todo. Se eu nunca tivesse sido católico, perguntaria ao protestantes o que é o catolicismo? Perguntaria aos marxistas o que é a Igreja? Perguntaria aos apostatas a razão de sua fé? Claro que sim. O ponto de vista desta gente me conduzirá a uma visão crítica da Igreja.

Mas após o conhecimento destes “achares”, poderia eu resumir meu conhecimento e gritar ao mundo que ele é completo? Claro que não, preciso eu agora tomar parte daquele que de fato são os fieis depositários e modelos do que a própria Igreja aponta como faróis de conduta e catolicidade. E para ser justo, comigo mesmo, procuraria o padre mais fiel, o livro mais católico e as fontes mais divulgadas entre os romanistas, para ter um contrapeso.

Após uma análise destes dois lados, poderia eu agora sim, fazer crescer em sabedoria e escolher não só em que acreditar, mas também por que fazê-lo. Porém, a desconfiança dos desconfiados é o que lhes paralisa o cérebro e por medo de fideismo religioso assumem o fideismo racional, mais parecido com teimosia de mulas empedernidas que agarram na primeira tentativa de mudar de direção.

Infelizmente para estas mentes, aqueles que olham para os dois lados, antes de atravessar uma rua com muitos carros, estão errados por lhes sugerir que façam o mesmo, pelo simples fato de não estarem de acordo com o fato de que, os carros que vem pela direita e pela esquerda, são tão reais quanto o próprio chão em que estão pisando. E para não passarem por ignorantes se fazem ignorantes num concurso de ignorâncias plenas e não saberes absolutos. Hoje a desconfiança é a genitora da ignorância.

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