O
que é mais importante, a cura ou o amor? Durante nossas vidas neste mundo,
neste vale de lágrimas, nos deparamos com inúmeras doenças, sofrimentos,
problemas e acontecimentos que não só nos incomodam, mas que nos destroem por
dentro de tanta tristeza e nos faz sofrer de maneiras extremas.
O
que sente uma mãe, que vê seu filho nascendo defeituoso, com problemas
congênitos? O que sente um marido apaixonado que se depara com a doença de sua
esposa? O que sente uma família inteira que sofre com a falta de esperança de
um ente querido diante de uma doença incurável e que causa dor e sofrimento?
Destes
sentimentos, nasce aquilo que podemos chamar de “Fé”. Estas pessoas iniciam uma
busca constante e ininterrupta pela cura de seus entes queridos. Até mesmo
aqueles que mesmo doentes, mas que ainda são capazes de continuar a procurar
por uma cura, seja lá de onde ela vier.
De
maneira geral, os ocidentais, procuram primeiro a medicina convencional,
técnica e científica, que não apela para nenhum tipo de fé, mas sim no
argumento de que a própria técnica em sim irá produzir os efeitos de cura,
pelos tratamentos amplamente repetidos em outros pacientes. Porém, se esta
medicina falha, os ocidentais procuram resposta no campo espiritual e visitam
igrejas, templos, xamãs, milagreiros e curandeiros, e muitas vezes, conseguem o
que tanto queriam, que era a cura desta ou daquela doença.
No
oriente, a coisa se inverte. Em geral, os orientais, procuram primeiro uma
resposta no campo espiritual e quando este falha que procuram resposta na
medicina convencional. Porém, seja como for, ambos, estão sempre em busca do
alívio de seus sofrimentos com a supressão da causa deste ou daquele
sofrimento. Se alguém está doente, e por isso se sofre, para que se pare de
sofrer, é necessário que aquele ente querido encontre logo a cura, que depois
de alcançada é razão e motivo de júbilo e alegria.
Mas
neste ponto, permanece um fato que muitas vezes é ATERRORIZADOR. Este ente
querido, depois de curado, irá novamente adoecer e mesmo que não adoeça,
certamente irá morrer. Então, aquela cura, que foi alcançada, seja lá por que
meios (espirituais ou científicos), não terá mais razão de ser para quem perdeu
este ente querido.
Existe
um filme famoso, chamado, O motoqueiro fantasma. Neste filme, um jovem rapaz,
que vivia com seu querido pai, vê seu amado pai adoecer e chegar perto da
morte. Num momento de desespero, ao se deparar com o demônio em pessoa, faz com
ele um acordo: entregaria-lhe a sua própria alma se seu pai ficasse curado. De
fato, seu pai fica curado, e volta ao seu vigor de juventude, porém, após a
cura, o pai do menino sofre um acidente e morre, em plena saúde. Porém agora, o
rapaz já vendeu a alma ao diabo.
Analisando
esta história, podemos constatar que esta, é infelizmente a história de muita
gente. Pessoas procuram incansavelmente por milagres. Sejam cientistas,
letrados, soldados, generais, professores, presidentes, reis ou maguinatas.
Quando o sofrimento bate-lhes a porta, todos se voltam para a esperança de um
milagre.
Não
estou aqui, questionando o intuitivo consolo dos nossos sofrimentos na
esperança de um verdadeiro milagre. Pois os milagres de fato são importantes e
necessários, caso contrário Jesus não ressuscitaria Lázaro, para ele morrer
depois em maior sofrimento diante do martírio.
Então,
para que os milagres servem? De imediato, os milagres servem para confirmar a
fé do crente, mas não apenas sua própria fé, mas também a fé de quem presencia
ou toma conhecimento do milagre. O milagre acontecido com outro, mesmo que eu
permaneça doente, deveria causar em mim um sentimento de consolo e entrega não
à doença, mas ao Deus que me espera após o alívio da morte.
Devemos
nos lembrar que Deus, por ser o sumo bem, deve permanecer escondido, pois caso
se revelasse, imediatamente invadiria nossa liberdade e certamente perderíamos
nossa liberdade de não escolhê-lo. Pois Ele não seria amado pelo que é, mas
apenas por ser Deus, mas Ele não é apenas Deus. Ele é um Ser, ou melhor, “O Ser
em Si”, e por isso, deve ser escolhido e não deve impor que Lhe escolhamos.
Imagine
um jovem, que experimente cocaína. Na primeira vez, ele escolheu, porém, a
sedução do sentimento é tão grande, que é imbuído a experimentar uma segunda
vez, e uma terceira e assim sucessivamente até que, utilizar a cocaína, não é
mais uma opção, mas uma necessidade. Necessidade tão alta que o viciado está
disposto a fazer tudo e dar tudo para ter mais algumas gramas da droga.
Se
esta realidade acontece com a droga, imagina se nos fosse possível vislumbrar a
plenitude e o conhecimento daquele que é O Criador do prazer? Daquele que é o
Criador da sedução. Por Aquele que é o Sumo Bem? Não O resistiríamos e não O
escolheríamos, pois não seria mais uma escolha e sim uma necessidade. Por isso,
Deus se esconde e se revela. Revela-Se em amostras pequenas de Sua grandeza,
uma revelação tão equilibrada que mesmo aquele que a contempla, tem total
liberdade para recusar. Jesus nos revela o Pai, mas mesmo assim, ainda podemos
não optar por acolhê-Lo em nossas vidas.
Então,
Deus, que nos criou por amor, está impedido, por exemplo, de nos tocar, de nos
acariciar, de nos permitir que O olhemos nos olhos, pois se o fizesse como Deus
que é nos roubaria a liberdade, e se isso acontecesse, imediatamente deixaríamos
de ser um ser, e passaríamos a ser coisas que por uma lei de atração se atraem
pelo Criador. E isso, não é amor. Isso não é amar. E Deus quer ser amado e não
atrair os seres por sua condição de Deus.
Um
animal não ama seu dono por que o dono é rico, ou pobre, ele ama seu dono por
que o dono é o que lhe dá comida, lhe dá abrigo e carinho. O animal estabelece
com o seu dono um relacionamento de familiaridade, familiaridade maior que tem
com outros indivíduos de sua espécie. Mas os animais não têm opção. Se aquela
pessoa lhe dá alimento, será aquela que ela irá amar. Porém, nós não somos
assim. Existe em nós uma busca constante pela satisfação e por um crescimento
pleno. O Homem olha para uma vaca e vê que a alegria de uma vaca é comer, beber
e dormir. Porém, o ser humano não é assim. Somos seres incompletos e
inacabados, em busca constante por uma plenitude que nunca será alcançada, se
não no Próprio Deus. E assim, estamos sempre em busca do que é maior do que
nós.
Porém,
apesar de estarmos à procura de Deus, não estamos dispostos a encontrá-Lo. Pois
para encontrar com Deus, é preciso abrir mão de nossa própria vida. Abrir mão
de tudo o que conhecemos e somos, e nos lançarmos no desconhecido, um
desconhecido chamado morte.
E
com medo deste encontro com Deus, por meio da morte, corremos angustiados no
sentido contrário da morte, no sentido contrário de Deus. É como que se aquele
Pai, da parábola do filho pródigo, estivesse à espera do filho que se perdeu,
porém, o filho quando se vê forçado a voltar à casa do Pai, solicitasse via
“telefone” mais dinheiro pra permanecer onde está, numa manifestação clara de
que não ama o Pai, mas apenas o que Ele tem a oferecer. E assim agimos nós
também, quando iniciamos um processo de busca pelo milagre a todo custo,
independente da vontade de Deus. Pois se engana quem acredita que a cura física
de todas as pessoas é vontade de Deus, se engana também quem pensa que Deus
quer livrar o mundo de todas as doenças, de todos os males e de todo
sofrimento, pois Deus não pode fazer isso, não por ser impotente, mas por que
se fizesse isso, estaria interferindo em nossa liberdade, pois todos os males,
sofrimentos e doenças que temos é conseqüência direta de nossas escolhas e ações,
e por que não dizer, de nosso pecado?
Por
isso, antes de pedir o milagre, pergunte a Deus primeiro se é vontade Dele, que
o milagre aconteça, e caso não aconteça, por um pedido direto seu, não adianta ir
à busca de milagreiros, obreiros, “apóstolos” ou fórmulas mágicas. Mesmo
aqueles que vão à busca de milagres nos santuários católicos, em sua maioria,
não vão para rezar, que é o objetivo dos santuários, mas sim, em busca de
milagres e graças, que muitas vezes são concedidas pela Misericórdia de Deus,
mas não por que necessitamos, mas por insistência e teimosia nossa.
Jesus
não curou todos os que o procuravam, muitos que não foram curados, e mesmo
quando Jesus curava, ele pedia para que não se falasse disso com os outros,
queria Jesus esconder o Evangelho? Claro que não, mas é por que os milagres não
são o Evangelho, pois a verdadeira Boa Nova, é que temos condições de nos
aproximas de Deus, pois, Ele é amor e nos espera. Jesus ao pedir para que não
se revele a todos o Milagre, queria impedir que as pessoas o buscassem apenas
pelos milagres, sinais e prodígios, mas pelo que Ele estava dizendo, pois o que
Ele proclamava e proclama até hoje, é a Verdadeira Palavra de Deus, ou seja,
Ele próprio.
Não
busque os milagres de Deus, nem mesmo busque o Deus dos milagres, busque a Deus
por que o ama, e por que sabe que Ele te ama. Ame, ame, ame... Se você O amar,
com muita probabilidade você não será curado, mas com toda certeza, está
esperado o quanto antes ao convívio do Pai que o espera de braços abertos após
passarmos a porteira que costumamos chamar de morte.
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Que Deus não permita que a Verdade não seja vista por nossos olhos e nem deixada de ser dita por nossas bocas! Paz e bem