Como
já contei no 1º. Testemunho, sobre a comunidade de vida em que vivi por três
anos com minha família, que também é uma comunidade terapêutica fundada por um
padre muito querido e famoso no Brasil, que se destacou por uma pregação bem
humorada e faleceu em 2007 vitima do câncer, dando um testemunho maravilhoso
seguindo na radicalidade o versículo “Buscai
as coisas do alto” (Cl 3,1).
Hoje
venho falar das maravilhas que, apesar das oposições, Deus tem realizado no
interior da obra. Por dois anos e meio, fiquei responsável de fazer a triagem
dos dependentes químicos interessados em serem acolhidos na comunidade. É um
procedimento chamado pré-acolhimento, onde o candidato ao acolhimento recebe as
informações referentes às regras da casa e colhemos os dados pessoais da
pessoa.
Como
a comunidade, a princípio era uma comunidade religiosa e não uma ONG, como é
agora, colocamos os nossos dons a serviço. Fizemos uma apresentação em slides
para expor a informação de maneira mais clara e objetiva, que inclusive é ainda
utilizada em alguns recantos, e após a explanação, fazíamos uma oração de cura
interior e de perdão.
Esta
oração consistia em pedir para que os dependentes químicos permanecessem
sentados, enquanto os pais ou acompanhantes rezassem intercedendo por aquela
pessoa que ele havia levado à comunidade. Depois fazíamos um momento de perdão,
onde todos se abraçavam, e choravam, e ali mesmo aconteciam verdadeiros
milagres, curas e libertações.
Chegamos
a receber alguns testemunhos de pessoas que não precisaram mais voltar à
comunidade, por que a Graça de Deus já os havia tocado e mudado suas vidas.
Outros acolhidos nos confidencializaram que só decidiram pela internação
(acolhimento) por causa daquela oração e por causa do momento de perdão que
participaram.
Houve
um rapaz, pai de três filhas, do litoral paulista, com mais de 15 anos de
dependência química, sem a primeira Eucaristia, com envolvimento no
narcotráfico que só quis ser acolhido por causa daquela oração.
Este
rapaz me deu um dos testemunhos de conversão mais lindos que já vi na minha
vida. Pois quando veio para a comunidade, eu fiquei responsável de
acompanha-lo. Que alma linda! Que homem maravilhoso e dedicado! Apesar de
tantos anos de dependência, nunca deixou nada faltar para a família. Começou a
desejar fazer a primeira comunhão e com autorização da comunidade, ministrei
para ele a catequese.
O
tempo foi passando, e mesmo ele tendo voltado para casa, para resolver
problemas judiciais por 4 dias, ele não só não usou drogas, como também não
tomou refrigerante (uma das regras da comunidade), não fumou cigarro e o maior
de todos os testemunhos, estando em casa com a companheira, que ainda não
haviam contraído o matrimônio, não manteve relações sexuais com ela, por amor à
Jesus e para não leva-la a pecar.
Após
um tempo dentro da comunidade, os membros descobriram que ele era um bom
trabalhador manual (pintura) e o colocaram para trabalhar numa construção
interna. Infelizmente se esqueceram que ele não estava lá para trabalhar, mas
para se restaurar. Ele mesmo, muitas vezes me apresentou esta dificuldade:
“parece que só querem que eu trabalhe e não se importam com o meu
relacionamento com Deus”. (Infelizmente isso acontece com relativa frequência
dentro da comunidade)
Então,
por não aguentar mais, tanto trabalho e pouca oração, sendo deixado por alguns
dias sem participar dos momentos de oração, para se dedicar ao trabalho que a
comunidade deveria estar lhe pagando para fazer, mas não estava, pelo contrário,
ainda lhe cobravam o capricho de um profissional. Ele decidiu ir embora.
Mas
não antes de me dizer: “Só vim para esta comunidade por causa daquela oração no
pré-acolhimento, e te agradeço por isso, hoje quero ser um catequista como
você. Batizar minhas filhas e me casar com minha mulher”. Tudo começou naquela
oração no pré-acolhimento.
Em
Agosto deste ano de 2015, o Gestor Geral da comunidade, um funcionário,
juntamente com a Assistente Social da casa mãe da comunidade, foram ao recanto
onde morávamos. Num certo dia, me pediram para descrever o pré-acolhimento que
fazíamos e falamos que rezávamos e ministrávamos o perdão. Qual não foi nossa
surpresa quando na frente da nossa superiora e de outros consagrados e
funcionários da comunidade, o Gestor Geral nos disse: “Você não pode fazer isso
(rezar pelos candidatos) pois se você faz isso, eles correm o risco de serem
curados antes de vir para a comunidade e já não seremos mais úteis.”
Estas
palavras foram um duro golpe em nossos corações, pois achávamos que em uma
comunidade religiosa, fundada por um padre ministro de cura interior e perdão,
se estivéssemos ministrando a cura interior e promovendo o perdão entre as
famílias, estaríamos fazendo não apenas a vontade de Deus, mas estaríamos de
acordo com o carisma do fundador.
Pois
bem... após este episódio, fomos retirados do pré-acolhimento a pedido do
Formador Geral e do Presidente da comunidade, alegando que estávamos muito
tempo na mesma função. Claro que obedecemos e nos dispusemos, e mais tarde
questionamos, mas a resposta foi sempre a mesma: “você só olha as coisas pelo ponto
negativo”.
Este
testemunho, está de acordo com meu outro artigo denominado “ONG e a Indústriado Humanitarismo” onde expresso a problemática e o conflito de interesses que
toda ONG tem entre resolver o problema e se manter para continuar ganhando
dinheiro dos inúmeros doadores e benfeitores.
Antes
de doar qualquer coisa para uma obra social, instituição e principalmente para a
comunidade à qual estou me referindo, sugiro que você cobre dos consagrados,
padres e funcionários da instituição, que o seu dinheiro seja utilizado para o
fim a que se propõe.
“Judas, o traidor, vendo-o então condenado,
tomado de remorsos, foi devolver aos príncipes dos sacerdotes e aos anciãos as
trinta moedas de prata, dizendo-lhes: Pequei, entregando o sangue de um justo.
Responderam-lhe: Que nos importa? Isto é lá contigo! Ele jogou então no templo
as moedas de prata, saiu e foi enforcar-se.” (Mt 27, 3-5)
Recado
para o Gestor: Não é nada pessoal, sei que é seu emprego e sua tarefa é ganhar
dinheiro, mas não é este o objetivo de uma comunidade religiosa.