quarta-feira, novembro 25

2º. Testemunho – Se rezar você perde o emprego!

Como já contei no 1º. Testemunho, sobre a comunidade de vida em que vivi por três anos com minha família, que também é uma comunidade terapêutica fundada por um padre muito querido e famoso no Brasil, que se destacou por uma pregação bem humorada e faleceu em 2007 vitima do câncer, dando um testemunho maravilhoso seguindo na radicalidade o versículo “Buscai as coisas do alto” (Cl 3,1).

Hoje venho falar das maravilhas que, apesar das oposições, Deus tem realizado no interior da obra. Por dois anos e meio, fiquei responsável de fazer a triagem dos dependentes químicos interessados em serem acolhidos na comunidade. É um procedimento chamado pré-acolhimento, onde o candidato ao acolhimento recebe as informações referentes às regras da casa e colhemos os dados pessoais da pessoa.

Como a comunidade, a princípio era uma comunidade religiosa e não uma ONG, como é agora, colocamos os nossos dons a serviço. Fizemos uma apresentação em slides para expor a informação de maneira mais clara e objetiva, que inclusive é ainda utilizada em alguns recantos, e após a explanação, fazíamos uma oração de cura interior e de perdão.

Esta oração consistia em pedir para que os dependentes químicos permanecessem sentados, enquanto os pais ou acompanhantes rezassem intercedendo por aquela pessoa que ele havia levado à comunidade. Depois fazíamos um momento de perdão, onde todos se abraçavam, e choravam, e ali mesmo aconteciam verdadeiros milagres, curas e libertações.

Chegamos a receber alguns testemunhos de pessoas que não precisaram mais voltar à comunidade, por que a Graça de Deus já os havia tocado e mudado suas vidas. Outros acolhidos nos confidencializaram que só decidiram pela internação (acolhimento) por causa daquela oração e por causa do momento de perdão que participaram.

Houve um rapaz, pai de três filhas, do litoral paulista, com mais de 15 anos de dependência química, sem a primeira Eucaristia, com envolvimento no narcotráfico que só quis ser acolhido por causa daquela oração.

Este rapaz me deu um dos testemunhos de conversão mais lindos que já vi na minha vida. Pois quando veio para a comunidade, eu fiquei responsável de acompanha-lo. Que alma linda! Que homem maravilhoso e dedicado! Apesar de tantos anos de dependência, nunca deixou nada faltar para a família. Começou a desejar fazer a primeira comunhão e com autorização da comunidade, ministrei para ele a catequese.

O tempo foi passando, e mesmo ele tendo voltado para casa, para resolver problemas judiciais por 4 dias, ele não só não usou drogas, como também não tomou refrigerante (uma das regras da comunidade), não fumou cigarro e o maior de todos os testemunhos, estando em casa com a companheira, que ainda não haviam contraído o matrimônio, não manteve relações sexuais com ela, por amor à Jesus e para não leva-la a pecar.

Após um tempo dentro da comunidade, os membros descobriram que ele era um bom trabalhador manual (pintura) e o colocaram para trabalhar numa construção interna. Infelizmente se esqueceram que ele não estava lá para trabalhar, mas para se restaurar. Ele mesmo, muitas vezes me apresentou esta dificuldade: “parece que só querem que eu trabalhe e não se importam com o meu relacionamento com Deus”. (Infelizmente isso acontece com relativa frequência dentro da comunidade)

Então, por não aguentar mais, tanto trabalho e pouca oração, sendo deixado por alguns dias sem participar dos momentos de oração, para se dedicar ao trabalho que a comunidade deveria estar lhe pagando para fazer, mas não estava, pelo contrário, ainda lhe cobravam o capricho de um profissional. Ele decidiu ir embora.

Mas não antes de me dizer: “Só vim para esta comunidade por causa daquela oração no pré-acolhimento, e te agradeço por isso, hoje quero ser um catequista como você. Batizar minhas filhas e me casar com minha mulher”. Tudo começou naquela oração no pré-acolhimento.

Em Agosto deste ano de 2015, o Gestor Geral da comunidade, um funcionário, juntamente com a Assistente Social da casa mãe da comunidade, foram ao recanto onde morávamos. Num certo dia, me pediram para descrever o pré-acolhimento que fazíamos e falamos que rezávamos e ministrávamos o perdão. Qual não foi nossa surpresa quando na frente da nossa superiora e de outros consagrados e funcionários da comunidade, o Gestor Geral nos disse: “Você não pode fazer isso (rezar pelos candidatos) pois se você faz isso, eles correm o risco de serem curados antes de vir para a comunidade e já não seremos mais úteis.”

Estas palavras foram um duro golpe em nossos corações, pois achávamos que em uma comunidade religiosa, fundada por um padre ministro de cura interior e perdão, se estivéssemos ministrando a cura interior e promovendo o perdão entre as famílias, estaríamos fazendo não apenas a vontade de Deus, mas estaríamos de acordo com o carisma do fundador.

Pois bem... após este episódio, fomos retirados do pré-acolhimento a pedido do Formador Geral e do Presidente da comunidade, alegando que estávamos muito tempo na mesma função. Claro que obedecemos e nos dispusemos, e mais tarde questionamos, mas a resposta foi sempre a mesma: “você só olha as coisas pelo ponto negativo”.

Este testemunho, está de acordo com meu outro artigo denominado “ONG e a Indústriado Humanitarismo” onde expresso a problemática e o conflito de interesses que toda ONG tem entre resolver o problema e se manter para continuar ganhando dinheiro dos inúmeros doadores e benfeitores.

Antes de doar qualquer coisa para uma obra social, instituição e principalmente para a comunidade à qual estou me referindo, sugiro que você cobre dos consagrados, padres e funcionários da instituição, que o seu dinheiro seja utilizado para o fim a que se propõe.

Judas, o traidor, vendo-o então condenado, tomado de remorsos, foi devolver aos príncipes dos sacerdotes e aos anciãos as trinta moedas de prata, dizendo-lhes: Pequei, entregando o sangue de um justo. Responderam-lhe: Que nos importa? Isto é lá contigo! Ele jogou então no templo as moedas de prata, saiu e foi enforcar-se.” (Mt 27, 3-5)


Recado para o Gestor: Não é nada pessoal, sei que é seu emprego e sua tarefa é ganhar dinheiro, mas não é este o objetivo de uma comunidade religiosa.

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Que Deus não permita que a Verdade não seja vista por nossos olhos e nem deixada de ser dita por nossas bocas! Paz e bem