sexta-feira, maio 6

A Ordem e o Progresso

Relatos de um cidadão brasileiro, um dia após a Aprovação da PLC.122/06.

Eu não sei por que sou assim. Sempre fui assim. Acho que nasceu comigo. Muitas pessoas me dizer que eu não deveria agir assim. Me acolhem, mas eu consigo ver em seus olhos que me vêem diferente. Eu sou diferente.

Nem mesmo na Igreja eu encontro lugar, dizem que é pecado, dizem ser uma abominação de Deus, que muitos morreram por causa disso. Um padre durante uma pregação, disse que Deus ama a todos, que Deus tem misericórdia de todos, que Deus cura e que Deus liberta. Mas por que Deus não arranca isso de mim, eu não quero ser assim, eu não pedi, mas me condenam por algo que eu sou, sem nem mesmo ter tido eu a opção de escolher.

Fui procurar um médico que disse para eu não me importar com o que os outros pensam, que devo me assumir assim, que devo me conformar e que não existe tratamento possível para este problema, e ainda disse-me que nem é um problema e escarneceu um pouco da minha situação. Me senti humilhado, me senti deprimido...

Uma sociedade injusta e hipócrita, capaz de segregar os seus semelhantes, capaz de distorcer a realidade e de forçar que todos sejam uniformes, padronizados e iguais. Por que Deus fez a todos diferentes, para Ele, é a diversidade, mas para nós é um sofrimento, sei que Ele sofreu, pois no fundo ele era como eu, não se adaptou à sociedade, não viveu os padrões sexuais e morais de seu tempo, e por isso foi morto, nem mesmo os seus amigos o entenderam, e a Igreja que ele fundou se afundou naquilo que Ele tanto condenou.

Mas eu grito que sou normal, o meu comportamento é encontrado na maioria das espécies animais, se não em todas, em algum momento desenvolvem o mesmo tipo de apetite que o meu, muitos dizem que não sou normal, que sou uma aberração e que tenho de me adaptar. Lutar contra os meus sentimentos e sentidos, destruir o que em mim, me faz ser diferente.

Mas se eu fizer isso, corro o risco de destruir em mim, grande parte do que eu sou, minha personalidade e minha auto estima nascem do que eu sou, e não quero mudar, eu gosto de ser assim. Gosto de fazer o que eu faço, isso me dá prazer, e eu amo, amo com todas as minhas forças, mesmo que não seja eu retribuído, pois assim como os demais, quem eu amo, não me quer, pois sou diferente, e um relacionamento entre uma pessoa dita normal e uma anormal como eu, não é possível, isso a tornaria como eu, e esta pessoa, a quem eu amo tanto, não quer ser como eu, por sermos diferentes, não tem os mesmo sentimentos que eu tenho.

Entro nos bares, não tem como negar o que sou, todos percebem e até fazem chacota, até escarnecem de minha condição, eu choro... choro por que será que eles não sabem que não foi eu que escolhi? Será que não sabem que não foi uma opção? Será que não escutam a voz interior que tem dentro deles a dizer que somos iguais, não interessa a opção sexual ou a orientação sexual?

Deixem-me ser o que sou... Deus, tenha piedade de minha alma, sei que vou contra sua natureza e que o uso normal da minha sexualidade não é o que eu vivo, porém, eu suplico, me perdoe... Me perdoe por me transformar numa abominação aos olhos dos homens, mas sei que não o sou às suas vistas. Dá-me força.

Mesmo não mudando meu interior, eu vivo hoje esta luta... Sou hetero mas diante de todos, aceitei me comportar como Homo parra ser aceito e viver na legalidade, no país que grita Ordem e Progresso, se afunda hoje, na desordem e no retrocesso.
"Quem sabe um dia esta sociedade mude e entenda que podemos ser iguais mesmo sendo diferentes e que não é uma lei que irá mudar A VERDADE."

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