terça-feira, janeiro 19

O deus Consigo

Existe um sinal claro e indefectível do que é um cristão. Ele é um “novo cristo” (minúsculo mesmo), não um substituto, mas um propagador (imitador, imitante e imitado), pois assim disse São Paulo, não apenas uma, mas várias vezes (1Cor 4,16. 11,1; Ef 5,1; Fl 3,17; 1 Tes 1,6. 2,14 e Hb 6,12): “Sejam meus imitadores e imitadores dos herdeiros da promessa” (livre versão).

E olha que imitar a Cristo, já é difícil, mas Nosso Senhor não se cansa de nos desafiar, e nos dá um desafio maior ainda, de imitar Aquele que “habita em luz inacessível” (ITm 6,16), o Pai! E nos diz isso em alto e bom tom, resumindo todo o Sermão da Montanha de Mateus, a “constituição” do ser cristão, aliás, do ser humano: “Estote ergo vos perfecti, sicut Pater vester caelestis perfectus est”. (Mt 5,48) – “sede perfeitos, assim como o vosso Pai celeste é perfeito”.

Somos chamados a imitar o Pai! Ainda bem que quem viu o Filho viu o Pai revelado (Jo 6,46) e assim, somos chamados a imitar o Pai e o Filho, pois “somos um” (Jo 10,30) disse Jesus. E para imitá-Los, somente com a condução do Espírito Santo (Rm 8,14) e assim sermos de fato, filhos de Deus. Pois o Espírito não aniquila o nosso espírito humano (temperamento, personalidade, vontade, jeito de ser, etc...) ao contrário, “vem em auxílio à nossa fraqueza” (Rm 8,26). E onde há fraqueza humana, há pecado (Rm 6,19), e o ser humano ainda não concebeu o quão fraco pode chegar a ser!

Deus é amor (1Jo 4,8 e 16), e não importando o quão abundantes sejam os nossos pecados e fraquezas a Graça de Deus é capaz de nos transbordar (Rm 5,20) e transformar (Rm 12,2) em um “novo cristo”. Pois o que acontece com o Pão Eucaristizado (Jo 6), acontece com o homem Eucarístico. É transubstanciado em Cristo!

Esta verdade é tão patente, que se chega ao ponto de se dizer, ao olharmos para o cristão verdadeiro: “Eu vivo, mas já não sou eu; é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20). E se Cristo vive em nós, somos chamados a ter os mesmos “sentimentos” de Cristo (Pd 3,8), pois é o nosso objetivo: “amar como Jesus amou”.

E amar, não de modo simplesmente humano, pois Cristo é Deus e Homem (Jo 8,58. 20.28) e quer nos fazer “deuses Consigo” (Santo Tomas de Aquino; Suma Teológica, Parte I, Questão 108, Artigo 5) pois Ele é o “Deus conosco” (Is 7,14) e temos de amar e “ser um só com Ele” (Jo 17,22).

Ele ama os inimigos (Mt 5,44), e não apenas o inimigo infernal (Ef 6,12), mas cada um de nós, “inimigos de Deus” (Tg 4,4), pois o que somos em pecado, se não apenas inimigos de Deus? E Ele disse ao Pai: “Pai, perdoa-lhes; porque não sabem o que fazem (Lc 23,34) e se Ele assim nos amou, assim devemos amar!

Ora, se o Pai, amou tanto o mundo (Jo 3,16) nós também devemos amar “todo mundo”! Ou amamos a TODO MUNDO (Todas as pessoas) ou não somos cristãos, pois sem isso, não há verdadeira imitação de Cristo.

Oração:

Meus amado Jesus, tenho a consciência de que um dos “maus” a quem Você faz nascer o sol sobre sua cabeça sou eu. Foi a mim também que Você se referiu ao dizer que “não sabem o que fazem”, pois não sei mesmo... pois o que é o momentâneo gozo do pecado diante da Eterna Glória junto ao Pai... assim admito! Eu não sei o que faço!

Mas sei o que quero fazer, mesmo diante da infinita distância que existe, e que sei que nunca chegarei lá, eu ao menos quero ser perfeito como o Pai é Perfeito.


Então ama os meus inimigos em mim, pois sem isso não passo de um ator que finge ser cristão. Dá-me um coração capaz de me perdoar e perdoar a todos, pois não sabemos o que fazemos, que a minha vida seja imitar-Vos e a morte consista em ser-Vos. Amém.

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