quarta-feira, janeiro 26

O Sobrevivente

Houve um tempo em que a cultura e a espiritualidade estavam tão secularizadas, que não havia mais referências da alta cultura que pudessem resgatar a dignidade da inteligência humana. Os grandes mestres de outrora, já bem velhos, se ainda vivos, e sem energia para promover uma empreitada de resgate, viam os grandes clássicos do pensamento mofando nas prateleiras das bibliotecas dos imortais.

 


A sociedade sucumbindo à sua própria idiotice, e os intelectuais, deixando de agir à luz da razão, professavam o credo ideológico que busca o agir pela razão, o que os tornava insensíveis aos próprios sentimentos de empatia e compaixão, tornando-se dominadores dominados por suas próprias ideologias, e ao invés de libertar mentes, aprisionavam-nas em suas bolhas cada vez mais segmentadas, racionadas e repletas de mediocridade, mesquinharia e demagogia politicamente correta.

 

A vida social já estava à beira do insuportável, quando um sobrevivente resiste à enxurrada de idiotices ensinadas pelos ditos “mestres” escolares, rejeita o conhecimento dito formal. Depois, até sendo acusado de recusar a academia e a formalidade, responde: “meu conhecimento foi formal, mas na forma que eu escolhi”. Assim contraiu o vício da liberdade, pois era incapaz de resistir à realidade. Um único acordado no trem bala da vida onde todos dormem com o sacolejo das ideologias.

 

Se este sobrevivente tivesse vivido na era dos clássicos, teria sido parceiro e amigo de Sócrates, Platão e Aristóteles. Diretor espiritual de Agostinho e brilhante opositor de Tomás, e, com certeza, um dos filhos prediletos de inúmeros santos como Padre Pio e Dom Bosco. Teria servido de inspiração dos poetas e escritores como Homero, Dante, Fiódor, Miguel, Fernando, Luiz e Carlos. Mas não viveu na era dos gênios literários, e sim, no tempo dos imbecis, descobrindo a fórmula para enlouquecer o mundo viu a longa marcha da vaca para o brejo, o que resultou neste terrível jardim das aflições.

 

Foi preparado pelo Pai Daquele a quem só se referia como Nosso Senhor Jesus Cristo, adestrado pela vida e curtido na estufa da sabedoria e do conhecimento, alimentou-se “de tudo um muito...” Muita astrologia, alquimia e esoterismo! Muita filosofia oriental fazendo-se Mohamed e militante do socialismo, estocando armas para a revolução. Mas, constatou o retrocesso, o vilipêndio das virtudes e a chacota da realidade que tanto lhe era cara, e assistiu pasmo seu país gerar idiotas poderosos, analfabetos letrados e estultos magistrados que não sabiam compreender a ironia de uma piada ácida. De fato, o humor de contraste não é para amadores e aqui só havia isso!

 

Com desassombro, começou cortando a própria carne, retirando a gordura do linguajar rebuscado, descendo o nível de sua própria eloquência, indo além da imbecilidade dos imbecis, tomando a língua materna dos ignorantes, provocando uma kenosis impensável pelos pensadores e inaugurou a educação e catequese deste novo continente chamado internet; com palavrões cirurgicamente colocados e de rede em rede, foi lançando as suas redes e emaranhados de conhecimento, ideias reais, e sua fé concreta. Entre um Filho da puta dito com, esperança e a caridade de revelar a um bosta que ele é um merda, dizia para escândalo dos pudicos: “Rezem o terço, porra! Não importa se você é evangélico, budista ou hindu, Nossa Senhora garantiu a salvação para quem reza o terço, então reza, caralho!”.

 

E como nada melhor do que a pequenez para confundir os soberbos, da forma mais baixa e chula fez-se pobre com os pobres, pequeno com os pequenos, agigantando-os e os soerguendo acima da cabeça dos anões agigantados do imbecil coletivo. Matando a fome de quem tinha sede de conhecimento, ressuscitando a inteligência em meio a uma pandemia de idiotices. O exterminador das dislexias e assassino de demagogias, eletrocutou e viu morrer a semente do mal no coração de homens petrificados, matando a vulgaridade com o vulgar, a insensatez com incessantes e brilhantes insensatezes, lucrou o amor, a admiração, a entrega, a fidelidade e o respeito da massa, que gritava pelas ruas: “Olavo tem razão!!!”.

 

Olavo tem razão: “Nunca deixe de fazer duas coisas: rezar e estudar”, não importa pelo que estejamos passando! Não importa o que o futuro nos reserva e do que nosso professor foi poupado! Não importa se doentes, sem dinheiro ou descalços, sempre haverá um momento para se rezar e estudar o conhecimento por presença e os quatro discursos no interior do homem que vive com o coração na mão e diante de Deus em uma dialética com o Espírito Santo. Não importa! A final ele importou para dentro de cada um de nós a consciência de nossa imortalidade e de que somos hospedeiros do único Ser ao qual ele se dignou temer a opinião, Olavo temia somente perder a Salvação.

 

Em um mundo como jamais funcionou, em meio a uma apoteose de vigarice, pautado pelo império da burla e da revolução cultural e com uma nova ordem mundial batendo a porta, que por meio da mentalidade revolucionária tem gerado imbecis juvenis que odeiam o conhecimento, a verdade e a realidade... Estão com seus dias contados, pois, assim na Terra como no Céu, é sempre feita a vontade de Deus, e se um único sobrevivente deste naufrágio foi capaz de ressuscitar os defuntos submersos no mar da ignorância, imagine do que não será capaz um exército de Olavetes que não tem medo de “True outspeak”, seja por meio do senso incomum ou de uma mídia sem máscara, fazer em fim chegarmos ao porto seguro de um Brasil sem medo, pois já sabemos que “Sapientiam Autem Non Vincit Malitia”.

 

No dia de São Francisco de Sales, às vésperas do dia de São Paulo, nasce para a vida aquele que salvou almas batizando-as com o mais refinado conhecimento, com o requinte da caridade de um “cala boca burro”, “porque também nós outrora éramos insensatos, rebeldes, transviados, escravos de paixões de toda espécie, vivendo na malícia e na inveja, detestáveis, odiando-nos uns aos outros” (Tito 3,3) e, mesmo assim, ele se fez ouvir, e após ter-se feito “tudo em todos”, encerrou sua carreira, pendurou o cachimbo, desligou a câmera, recitou seu último soneto e finalmente... Guardou a fé!

 

“Acabou Porrrrra nenhuma!”