A
linguagem é essencial à comunicação do ser humano, porém, o pensamento, ao
menos a princípio não exige a linguagem. A linguagem surge da necessidade de se
comunicar com os demais seres humanos, e como nos comunicamos quase que o tempo
todo, acabamos pensando na língua que falamos e na linguagem com que nos
comunicamos. Mas há o conhecimento que é adquirido sem linguagem, por meio da
simbologia natural, é esta “linguagem” que Deus usa para se comunicar conosco,
é um método universal. É algo sem definições e conceitos, é chamado de fé, pois
não tem uma lógica linguística, mas exige o uso da razão, caso contrário não
seríamos capazes de perceber e muito menos de interagir, como fazemos na
oração. A linguagem exige uma convenção, e Deus não é uma convenção, é um ser,
uma pessoa, alguém. Ele, falou tudo em Jesus. Jesus é a sua linguagem e sua
ideia.
A
linguagem pré-supõe as ideias, sem as ideias, não haveria linguagem, mas sem a
linguagem não haveria meio de transmitir as ideias. A linguagem tornou-se tão
importante, que quase que não precisa mais das ideias, e as ideias tornaram-se
completamente dependente da linguagem; por isso, dominar a linguagem é
preponderante na transmissão das ideias. Mas é preciso que o ser racional
liberte-se das linguagens em seu interior, pois pensar por meio da linguagem é
inútil e significa atraso, além é claro, de uma óbvia dificuldade de relacionamento
consigo mesmo. Inútil pois a linguagem serve apenas para comunicar,
exteriormente, o que se pensa. É um atraso por que limita o pensamento a tal
ponto que, ha casos em que mesmo a experiência mais real, por vezes subjetiva,
que não se consegue expressar pela linguagem é tida como, desimportante, ou
até, inexistente, fictícia e imaginária. E logicamente, para nos comunicarmos
conosco, o nosso relacionamento íntimo e privado, não há necessidade de
linguagem, mas, a dependência da linguagem acaba gerando uma dificuldade, pois
se o que não pode ser expresso não existe, muitas vezes, nossos sentimentos e
experiências mais reais, são, por nós mesmos considerados inexistentes. Este
cacoete mental, limita o universo ao mundo da linguagem e das ideias transmissíveis;
é necessário um retorno do ser humano ao mundo interior, ao mundo que por vezes
não pode ser comunicado, mas que é tão real, ou até mais real, do que aquilo
que pode ser expresso pela linguagem. Digo: mais real; pois, muitas vezes, o
mundo das ideias não passa de um “castelo de areia”, que não tem base na
experiência real, mas na fabricação das ideias e das ideologias. Toda ideologia
é no fundo, um grande castelo de areia, sem pé na realidade, mas um construto
linguístico mental. Abrir mão da capacidade de comunicar-se, por vezes pode ser
doloroso, implica uma solidão absoluta, porém, se esta experiência envolve a
experiência da presença do ser, abrir mão da linguagem é conservar a própria
autenticidade, unicidade e individualidade. De modo geral, as experiências
indizíveis pode ser que nunca sejam explicadas, mas podem ser vividas e
assimiladas, integradas à nossa personalidade e aos nosso valores, formando em
nós o que nós somos e o que é a essência do nosso ser. Tentar explicar o que é
indizível, é abrir mão de si mesmo e confundi-se com o mundo das ideias e
ideologias, que apesar de serem atraentes, nos levam cada vez mais para longe
de nós mesmos e da realidade por nós percebida. A pior consequência disso, é
certamente, perder a capacidade de “ouvir” a vós indizível de Deus, e se
colocar diante Dele, somente, por meio de uma máscara ideológica que não somos
nós. E Deus não fala com máscaras, Ele apenas ouve o que é real, honesto e
verdadeiro.