segunda-feira, maio 8

O equilíbrio do ser

Existiu, dentro de mim, um conflito entre o conservador e o progressista. O conservador, moderado ou extremista, que temia as mudanças, supervalorizava as tradições e colocava as regras e instituições acima do valor da dignidade das pessoas. Não queria mudar para não mexer em meu "status quo" e não abalar a minha comodidade. Toda mudança devia necessariamente passar pelo crivo do passado, nada do que seja novo tinha em si algo de bom, a não ser que passasse pela imitação do que já havia sido, do que já passou, do que ficou no tempo, do que parou no tempo, ou seja, não se podia renovar, mas sim, imitar. O meu ideal de vida, era que as coisas nunca mudassem, para que a mentalidade, visão de mundo e valores, nunca fossem questionados e muito menos modificados. Meu amor estava em viver a vida como ela foi. Não precisando ousar novas adaptações, bastando apenas copiar o modo de vida dos que ousaram e se adaptaram ao seu próprio tempo no passado; seguia a moda das tradições que, quanto mais imutáveis e engessadas fossem, melhor e mais seguro eu me sentia.

Depois, veio o tempo de ser progressista, moderado ou extremista, idolatrava as mudanças, desejando-as por elas mesmas, sejam quais fossem, supervalorizava as inovações e novidades, e suplantava a dignidade humana em nome do progresso e da evolução histórica, e revolução das massas, não tratava com o indivíduo real e concreto, mas apenas com o conceito fictício e ideal de humanidade. Desejava a mudança, pois, não tinha paciência para compreender o passado e considerava toda conquista de outrora como, retrógrada e ultrapassada. No fundo eu era incapaz de compreender o passado, por me faltar abertura para me colocar no lugar do outro e acabava julgando sempre negativo o passado que não favorecia o meu ideal de humanidade e, com anacronismo, condenava o que não queria compreender. Seguia a moda contemporânea e, quanto mais futurista melhor, pois, assim julgava-me autêntico. Por medo de ser semelhante ao passado que condenava, acabava me deformando, para caber na forma do presente futuro, trocando a autenticidade pela vã tentativa de ser igual a todos os que pensam como eu e concordavam comigo.

No primeiro, idolatrava o passado por comodismo e odiava o presente futuro por medo, no segundo, idolatrava o futuro por preguiça de compreender o passado, ao mesmo tempo que o odiava por ser incapaz de compreendê-lo.

Conservador ou progressista? Nenhum dos dois, o equilíbrio do ser, é ser cidadão do Céu.

O cidadão do Céu, é aquele que ama a verdade e se esforça para conhecer profundamente o passado, para não cometer os mesmos erros no presente futuro. Vasculha o passado em busca do que deu certo, do que funcionou, ao mesmo tempo que testa e avalia as novidades, para verificar se funcionam. 

O meu foco não está nos modelos passados, ou nos ideais de humanidade do futuro, mas sim em um modelo real, perene e atemporal de ser humano perfeito, mas que tolera o imperfeito, o estado atual, aproveitando o que há de melhor no momento. Fugindo da contradição, miro na perfeição humana ao mesmo tempo que reconheço e admito que nunca irei alcançá-la.

Desejo mais a mudança que o extremista progressista, por reconhecer nela a interferência direta da ação Divina, que é sempre bem-vinda, não importando a situação do meu ponto de vista, seja julgando pelo melhor ou para pior, a mudança é ação providencial de um Deus vivo e agente da história, não apenas um observador impassível; amo mais o passado que o extremista conservador, pois entendo que o passado tem a ensinar as fórmulas imutáveis do relacionamento com este Deus, que agiu no passado, está agindo no presente e que vai conduzir todos a Ele no futuro.

Não importa a tradição do passado, ou a moda do presente, o maior valor é a dignidade, autenticidade e a consciência que tenho, de que  posso ser sempre melhor, numa constante competição comigo, objetivando melhorar a mim mesmo, em função de melhor servir e amar o outro. Não me acomodo no passado, mas me debruço sobre ele para compreendê-lo e com este conhecimento, julgar todas as mudanças, identificando seus benefícios e observando o futuro com esperança.

Extremista, conservador, progressista, direita ou esquerda, não sou nada disso, sou o que Deus sonhou para mim e é isto que tento ser, e só serei feliz quando encontrar a Sua vontade em cada ação e novo dia, crendo, vivenciando e praticando a Fé que fundamenta a minha vida, a Esperança que é motivação na caminhada e o Amor que confere sentido para viver e existir.

terça-feira, abril 18

Penso, logo... Sou obrigado a me explicar?

A linguagem é essencial à comunicação do ser humano, porém, o pensamento, ao menos a princípio não exige a linguagem. A linguagem surge da necessidade de se comunicar com os demais seres humanos, e como nos comunicamos quase que o tempo todo, acabamos pensando na língua que falamos e na linguagem com que nos comunicamos. Mas há o conhecimento que é adquirido sem linguagem, por meio da simbologia natural, é esta “linguagem” que Deus usa para se comunicar conosco, é um método universal. É algo sem definições e conceitos, é chamado de fé, pois não tem uma lógica linguística, mas exige o uso da razão, caso contrário não seríamos capazes de perceber e muito menos de interagir, como fazemos na oração. A linguagem exige uma convenção, e Deus não é uma convenção, é um ser, uma pessoa, alguém. Ele, falou tudo em Jesus. Jesus é a sua linguagem e sua ideia.

A linguagem pré-supõe as ideias, sem as ideias, não haveria linguagem, mas sem a linguagem não haveria meio de transmitir as ideias. A linguagem tornou-se tão importante, que quase que não precisa mais das ideias, e as ideias tornaram-se completamente dependente da linguagem; por isso, dominar a linguagem é preponderante na transmissão das ideias. Mas é preciso que o ser racional liberte-se das linguagens em seu interior, pois pensar por meio da linguagem é inútil e significa atraso, além é claro, de uma óbvia dificuldade de relacionamento consigo mesmo. Inútil pois a linguagem serve apenas para comunicar, exteriormente, o que se pensa. É um atraso por que limita o pensamento a tal ponto que, ha casos em que mesmo a experiência mais real, por vezes subjetiva, que não se consegue expressar pela linguagem é tida como, desimportante, ou até, inexistente, fictícia e imaginária. E logicamente, para nos comunicarmos conosco, o nosso relacionamento íntimo e privado, não há necessidade de linguagem, mas, a dependência da linguagem acaba gerando uma dificuldade, pois se o que não pode ser expresso não existe, muitas vezes, nossos sentimentos e experiências mais reais, são, por nós mesmos considerados inexistentes. Este cacoete mental, limita o universo ao mundo da linguagem e das ideias transmissíveis; é necessário um retorno do ser humano ao mundo interior, ao mundo que por vezes não pode ser comunicado, mas que é tão real, ou até mais real, do que aquilo que pode ser expresso pela linguagem. Digo: mais real; pois, muitas vezes, o mundo das ideias não passa de um “castelo de areia”, que não tem base na experiência real, mas na fabricação das ideias e das ideologias. Toda ideologia é no fundo, um grande castelo de areia, sem pé na realidade, mas um construto linguístico mental. Abrir mão da capacidade de comunicar-se, por vezes pode ser doloroso, implica uma solidão absoluta, porém, se esta experiência envolve a experiência da presença do ser, abrir mão da linguagem é conservar a própria autenticidade, unicidade e individualidade. De modo geral, as experiências indizíveis pode ser que nunca sejam explicadas, mas podem ser vividas e assimiladas, integradas à nossa personalidade e aos nosso valores, formando em nós o que nós somos e o que é a essência do nosso ser. Tentar explicar o que é indizível, é abrir mão de si mesmo e confundi-se com o mundo das ideias e ideologias, que apesar de serem atraentes, nos levam cada vez mais para longe de nós mesmos e da realidade por nós percebida. A pior consequência disso, é certamente, perder a capacidade de “ouvir” a vós indizível de Deus, e se colocar diante Dele, somente, por meio de uma máscara ideológica que não somos nós. E Deus não fala com máscaras, Ele apenas ouve o que é real, honesto e verdadeiro.